Completam-se hoje 15 dias da paixão dos gaúchos. Paixão aqui no sentido teológico do termo, de sofrimentos excruciantes do corpo, da mente e do espírito. O inventário de dramas que se desenrolaram até aqui ainda está por ser escrito, mas já é possível recolher alguns aprendizados.
1) As três providências mais importantes a partir de agora são: preparação, preparação, preparação. Outras chuvas vão cair e precisamos estar à espera, não apenas com equipamentos que funcionam, mas com estratégia, planejamento e mudanças de atitude. Nos próximos meses e anos, o Rio Grande do Sul deve agir com a urgência de quem está permanentemente na mira de um franco-atirador.
2) Políticos de um Estado com tanto risco de ser atingido por eventos extremos não podem se comportar como um alecrim dourado indiferente às mudanças climáticas. No Congresso, a bancada gaúcha tem se notabilizado não apenas por apoiar, mas por propor projetos que jogam contra o meio ambiente. Na Assembleia Legislativa não tem sido diferente. Na próxima vez que for escolher um deputado, um senador, um prefeito, um governador, um presidente, pergunte-se: essa pessoa está realmente preocupada com a possibilidade de a água chegar ao meu pescoço na próxima inundação?
3) Notícias falsas em meio a uma catástrofe são como um automóvel rodando a 150 km/h na frente de uma escola. Sabemos que o motorista é um idiota, mas além de idiota é um criminoso. Os canalhas que espalharam fake news nos últimos dias, criando ruídos e atrapalhando o trabalho de quem está na linha de frente, devem ser punidos de forma rápida e exemplar.
4) Falando nisso, nunca é demais lembrar a importância do jornalismo profissional em um momento de crise. Os repórteres com água até a cintura, os editores organizando grandes operações de cobertura, os rostos e vozes conhecidos que trazem apoio e reforçam o sentido de comunidade são essenciais em situações de emergência. Mas notícia bem-apurada não dá em árvore. Apoiar o jornalismo local de qualidade é ajudar a manter um serviço de primeira necessidade, faça chuva ou faça sol.
•••
Em 1980, a seita Borboletas Azuis previu que o mundo acabaria no dia 13 de maio daquele ano. Por sorte, eles calcularam mal, e a festa dos meus 14 anos não precisou ser cancelada. (A catástrofe prevista era um dilúvio, claro, e o líder da seita chamava-se, não estou brincando, Roldão Mangueira.) Cá estou, muitos aniversários depois, com essa sensação de “meu mundo caiu” no dia 13 de maio. Mas vai passar. Se você gosta de mim, desta coluna ou de dar presentes para estranhos, faça agora uma doação para qualquer organização séria que esteja trabalhando, dia e noite, para não deixar meu mundo cair.