No próximo dia 20 de abril, completam-se 24 anos do massacre na escola Columbine, no Colorado, tragédia que causou a morte de 15 pessoas – entre elas, os dois alunos que executaram colegas e professores depois de meses de planejamento detalhado.
Columbine não foi o primeiro nem o mais mortal tiroteio em escola ou campus de universidade dos Estados Unidos, mas, com o apoio de uma cobertura jornalística massiva e muitas vezes irresponsável, acabou se transformando em um modelo macabro a ser seguido por legiões de desajustados. Até então, não havia um roteiro muito definido de como os atiradores de escolas deveriam se comportar ou mesmo se vestir durante os ataques. No momento em que a internet estava apenas começando a conectar tribos isoladas, Columbine consolidou uma espécie de manual para a performance da violência. No Brasil, foi a inspiração confessa dos atiradores de Suzano, que mataram cinco estudantes e duas funcionárias de uma escola pública paulista em 2019. Suzano, por sua vez, inspirou o estudante que matou uma professora e feriu outras quatro pessoas, em São Paulo, no último mês de março.
Nos Estados Unidos, a chamada Geração Columbine completou todo o ciclo escolar – da pré-escola à universidade – frequentando regularmente simulações, usando mochilas transparentes e pastas à prova de balas, atravessando portões com detectores de metais e testando protocolos que ensinam quando se deve correr ou buscar esconderijo. Enquanto isso, centros de treinamento espalhados por todo o país recebiam milhões de dólares em financiamento para analisar todos os casos, planejar simulações e preparar policiais para reagirem de forma rápida e eficiente em emergências desse tipo. Os resultados práticos, em termos de diminuição do número de vítimas, porém, continuam desanimadores.
Tiroteios em escolas sempre me pareceram o sintoma mais agudo de um mal-estar muito particular da cultura norte-americana, resultado da combinação fatal entre um incurável fetiche por armas e uma noção muito estreita e opressiva do que é ser vencedor ou perdedor na vida. Os ataques recentes no Brasil mostram que o modelo americano não apenas pode ser exportado, como é capaz de assumir contornos locais, adaptando-se a circunstâncias de miséria existencial e social que nos são próprias. Mudam as armas, as motivações e a estrutura mobilizada para evitar os massacres. Permanece a sensação de que estamos diante de um tipo de mal-estar que não se detecta, ou soluciona, apenas aumentando os equipamentos de segurança nas escolas.