Mundo, final dos anos 1970. Uma estranha pandemia espalha-se rapidamente a partir dos Estados Unidos. De um dia para o outro, a população mais jovem do planeta não consegue resistir ao impulso de ensaiar as coreografias de John Travolta na frente do espelho, imitar os falsetes de Barry Gibb, derreter-se em suspiros ao ouvir How Deep is Your Love. Naqueles anos, fosse você um playboy em Nova York ou uma guria de 12 anos em Porto Alegre, não havia como escapar às luzes estroboscópicas, aos globos espelhados e às músicas dos Bee Gees.
Artistas amaldiçoados pela própria fama costumam ter finais trágicos: autodestruição, ostracismo, uma overdose no auge do sucesso, um tiro na frente de casa. A maldição que recaiu sobre os Bee Gees foi um pouco diferente. A história é narrada em detalhes no documentário The Bee Gees: How Can You Mend a Broken Heart, que estreou em dezembro na HBO americana e ainda não tem data para chegar ao Brasil pelos canais convencionais.
Quando foram convidados a compor algumas músicas para a trilha sonora do filme Embalos de Sábado à Noite (1977), os três irmãos Gibb (Barry, o único ainda vivo, e os gêmeos Robin e Maurice) já tinham alguns anos de estrada. Formado em 1958, quando eles ainda eram crianças, na Austrália, o trio começou a fazer sucesso em 1965. O estouro nos anos em que a disco music estava no auge foi tremendo, mas não exatamente inédito na história do pop. É a velocidade da queda, e o fator que a precipitou, que chama a atenção.
Em 1979, a disco music já tinha sido explorada à exaustão pela indústria fonográfica quando surgiu um movimento contra artistas, justa ou injustamente, associados ao gênero. Não demorou muito para que um radialista tivesse a ideia de explodir uma caixa de discos “malditos” no final de uma partida entre os Chicago White Sox e os Detroit Tigers, no estádio Comiskey Park, em Chicago, naquela que ficou conhecida como a Disco Demolition Night.
Punidos pelo pecado de terem feito sucesso demais, os Bee Gees foram repentinamente banidos das rádios, mas acabaram encontrando um caminho de sobrevivência na cena musical compondo para outros artistas. Quanto à turba que destruiu discos em Chicago, quem ainda está vivo pode se orgulhar de ter participado de um dos episódios mais infames da história da música mundial.