Dizem que nenhum livro muda o mundo. Livros mudam pessoas que, com algum esforço, tentam mudar o mundo. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que o livro não apenas proponha uma nova maneira de pensar ou sentir, mas que chegue aos leitores no momento certo – nem antes nem depois. Se O Segundo Sexo, clássico feminista de Simone de Beauvoir, tivesse sido escrito 50 anos antes, talvez nem chegasse às livrarias. Cinquenta anos depois, teria causado pouco ou nenhum impacto. Em 1949, provocou uma pequena grande revolução.
Quando se trata daquele mundinho íntimo formado pelas ideias ou sentimentos que impactam as nossas vidas de forma marcante, funciona mais ou menos do mesmo jeito. Temos que estar prontos para que livros (ou filmes, músicas, peças de teatro...) mudem as nossas vidas – ou pelo menos criem a sensação de que isso aconteceu. Mas mesmo quem gosta muito de ler não encontrará, ao longo de toda a vida, mais do que cinco ou seis experiências capazes de provocar essa sensação de Queda da Bastilha interior. Um livro que fique na memória não apenas pelo impacto estético que proporcionou, mas por causar um tipo de curto-circuito que, ao contrário de apagar todas as luzes, ilumina.
Na segunda-feira à noite, quando começaram a chegar as notícias sobre a morte do escritor norte-americano Robert M. Pirsig (1928-2017), autor de Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas (1974), uma frase se repetia com alguma frequência nos comentários dos seus leitores: "Este livro mudou a minha vida". Li o romance aos 19 anos e nunca voltei a ele, mas também fui profundamente impactada pela história desse pai que vai para a estrada, de moto, na companhia do filho de 11 anos, refletindo sobre aquilo que alguns filósofos chamam de "a boa vida".
Numa interpretação muito singela, encontrar "a boa vida" é descobrir qual é a sua no mundo e fazer o possível para não se perder muito nos atalhos. Aos
19 anos, não poderia ter recebido um conselho mais decisivo.
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