Eles têm nomes exóticos como Whindersson, Kéfera, Iberê Thenório. Ensinam truques de games e maquiagem, comentam assuntos do dia, confessam intimidades. Publicam diários, críticas de cinema e até precoces livros de memórias. Estrelam filmes, comandam stand-ups e, nas horas vagas, assobiam e chupam cana. Sua ocupação primordial, porém, é uma só: dar pitacos sobre rigorosamente todos os assuntos deste mundo velho sem porteira – do ponto certo de cozimento do miojo ao sentido da existência. O que importa não é exatamente o que eles têm a dizer, mas a forma (carismática) e o meio (a internet).
Ricos, famosos e paparicados, os youtubers são as celebridades por excelência da nossa época, mas a maioria dos adultos sequer toma conhecimento da existência deles até o momento em que conquistam algum espaço na mídia tradicional – um quadro no Fantástico, um filme, uma participação na novela das oito. Você pisca o olho, presbíope, e lá estão eles, muito jovens e triunfantes, encabeçando a lista dos livros mais vendidos e os recordes de bilheteria – contando fãs e seguidores na casa dos milhões, sem necessariamente dominar qualquer habilidade típica das celebridades do seu tempo.
Se o sucesso de um "digital influencer", em geral, independe dos adultos ou de talentos convencionais, é diretamente proporcional à capacidade de criar identificação com sua audiência – formada, em sua maioria, por adolescentes e crianças. Quanto mais "gente como a gente" soarem seus comentários e sua visão de mundo, mais chances eles têm de deixarem de ser "gente como a gente" para se tornarem celebridades. E como qualquer menino ou menina de 12 anos pode perseguir esse sonho de fama planetária sem sequer sair do quarto ou acordar a mãe, cada youtuber famoso é também um mestre na cobiçada arte de tornar-se-um-youtuber-famoso.
Para quem quer se comunicar com o público jovem, sem intermediários, não existe canal mais apropriado. Quem mora na internet também precisa pagar aluguel, e a maior parte dos youtubers aceita de bom grado quando a oferta de publicidade, finalmente, bate a sua porta. Foi o que aconteceu no ano passado com os youtubers Lukas Marques e Daniel Molo, contratados pelo Ministério da Educação para darem uma forcinha para o projeto de reforma do Ensino Médio, conforme reportagem publicada sexta-feira no jornal Folha de S. Paulo.
Pagar por conteúdo não é nenhuma novidade na internet ou fora dela, mas pode se tornar um enorme problema ético quando o consumidor não é avisado do negócio – como aconteceu nesse caso. Os youtubers mais experientes entendem que, a longo prazo, essa é uma péssima estratégia e deixam claro quando estão fazendo publicidade. Com tanta oferta de pitaco no mercado, se você trair seu público vendendo propaganda como se fosse opinião isenta, pode ser trocado no dia seguinte pelo guri de 12 anos que acabou de criar seu canal no YouTube e não vende gato por lebre.
Infelizmente, a maioria dos adolescentes (e dos adultos...) têm dificuldade para distinguir fato e boato, informação e propaganda disfarçada – e a julgar pela proliferação de canais de notícias falsas nos últimos tempos o problema só tende a aumentar. Diante dessa barafunda de conteúdos de origem suspeita e dos perigos de uma epidemia planetária de fake news, um projeto de "educação para a informação" seria uma ótima ideia para introduzir no novo Ensino Médio. E, pelo visto, no velho Ministério da Educação também.