A sauna é mista, mas, em geral, sou a única mulher no ambiente. De dentro da sala aquecida, ouço as conversas dos homens que relaxam do lado de fora, alguns deles sem perceber que há uma mulher na escuta do outro lado da porta de vidro. É o mais perto que já cheguei daquilo que Donald Trump chamou de "conversa de vestiário" – um tipo de camaradagem masculina que, segundo o candidato republicano, admite tudo e significa nada.
Há, sim, algo peculiar nessas conversas exclusivamente masculinas que eu tenho ouvido. Talvez mais na ausência de algum tipo de filtro na escolha das palavras, na entonação da voz e na ênfase dos argumentos do que propriamente nos assuntos. Como, em geral, ninguém ali se conhece, nota-se aquela reserva protocolar que homens costumam manter diante de estranhos – pelo menos até entender até que ponto o outro representa algum tipo de ameaça. Mais ou menos explicitamente, toda interação social entre estranhos é um duelo, e ali não é diferente. A camaradagem masculina, sabemos, é um conto de fadas.
Homens na sauna falam dos assuntos óbvios – futebol, encrencas de trabalho, política – mas também das coisinhas miúdas do mundo masculino: técnicas para manter a barba em ordem, os tratamentos mais modernos contra a calvície, o melhor esporte para perder a barriga. Como se infringissem algum código tácito de superficialidade obrigatória, os temas mais graves, quando surgem, não vão muito adiante.
O sujeito que, distraído, mencionou a quantidade de amigos que andavam sucumbindo à depressão viu a palavra proibida ficar suspensa no ar, intacta, antes de se dissolver docemente no vapor. Ninguém está ali pra isso – nem mesmo esta espiã do outro sexo.
Talvez o "papo de vestiário" seja mais ou menos como a "escola de princesas" (o curso idealizado em Minas Gerais para formar meninas recatadas e do lar): a generalização de estereótipos, não muito favoráveis, de ambos os sexos. Existem, claro, homens que consideram aceitável e até mesmo engraçado ofender as mulheres – assim como há mulheres que acreditam que vale a pena criar filhas para serem princesas. Mas ninguém é obrigado a aceitar que um ou outro representa algo além do que as próprias limitações.