Cláudia Laitano
Porto Alegre é uma cidade áspera. Não me refiro aqui à onda de violência dos últimos meses ou à sensação de acabrunhamento crescente que ela vem produzindo, mas àquela aspereza cotidiana, velha conhecida, que costumamos associar com a nossa maneira muito peculiar de ser e estar no mundo: sempre a postos para uma guerra que nunca começa nem nunca termina. Falo daquele jeitinho gaúcho tão pitoresco que se manifesta com mais intensidade no trânsito e em outras circunstâncias em que o outro é apenas uma abstração de carne e osso a atravancar nosso caminho (eles passarão, eu passarinho antes). Jamais ceder a vez, economizar sorrisos, evitar cumprimentos e desculpas sempre que possível, correr para chegar na frente como se a nossa vida dependesse disso, confundir destempero verbal com "espontaneidade". Tudo isso se vê todos os dias na capital dos gaúchos, o lugar onde a gentileza muitas vezes é vista com desconfiança ou mal disfarçado desprezo.