O Inter se tornou um dos mais eficientes times do Brasil. Aquelas previsões otimistas do início do ano acabaram se confirmando por vias tortas.
Ou seja, tinha elenco, as contratações foram promissoras, não houve erro de logística da direção.
O maior desastre ambiental da história gaúcha atrapalhou os planos. Assim como a intransigência de Coudet, que deixava o talentoso argentino Alexandro Bernabei inativo, fora inclusive do banco de reservas. Ninguém entende como ele não era usado, ainda mais concorrendo com o irregular Renê, pivô de desclassificações.
Bernabei, com três gols e quatro assistências, eleito o melhor lateral no país por vários finais de semana, já é um dos destaques da temporada.
Inter perdeu Gauchão, Copa do Brasil, Sul-Americana, sob o descrédito do torcedor. Quando já achávamos que era mais um ano desperdiçado, surge Roger na casamata, surge D’Alessandro na direção de futebol e, de repente, acontece uma mágica de renovação no nosso espírito guerreiro.
Brioso e determinado, Roger Machado dá chance para os garotos da base, e resgata o Celeiro de Ases. Gabriel Carvalho, 17 anos, é titular. Gustavo Prado e Ricardo Mathias atuam com frequência.
Roger conseguiu reformular o plantel, unindo experiência e vitalidade, mantendo soberanamente o controle do vestiário — não vejo nenhum medalhão reclamando de falta de oportunidade.
Invenções se consolidaram como acertos, como Bruno Gomes desviado de sua função de volante para a lateral.
Thiago Maia, Fernando, Alan Patrick, Borré, Wesley recuperaram o mel da bola.
No enfrentamento com o Galo misto no sábado (26), nem a drenagem suspeita somente no campo de ataque do anfitrião, nem o pênalti inexistente para o adversário tiraram o brilho de uma entrega heroica com a marca da garra no meio da tempestade.
São onze partidas de invencibilidade e oito vitórias, entontecendo as estatísticas.
Depois de quase flertar com Z-4, Inter se encontra em quinto lugar, podendo entrar no G-4 a partir do confronto atrasado com Flamengo.
Além do Flamengo em casa, tem pela frente Criciúma e Fluminense no Beira-Rio. Ou seja, se preservar a alta concentração de jogo a jogo, de decisão a decisão, com o apoio maciço da torcida, é capaz de saltar para 61 pontos a cinco rodadas do término do campeonato.
Se Palmeiras tropeçar, se Botafogo tropeçar, o impossível Gigante, o messianismo colorado, o sobrenatural vermelho estará vindo lá de trás. Mansamente. Secretamente. Sem nenhum apoio de comentaristas, um azarão por completo.
Não se fala de título por uma questão racional. A probabilidade reside em 0,7%, de acordo com o Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É loucura cogitar tal hipótese (como se não fôssemos loucos!).
Significaria uma façanha épica e inexplicável. Nunca se viu tal reviravolta no Brasileirão. A regra é o campeão do primeiro turno corresponder às expectativas.
Mas que seria lindo um time há quarenta e cinco anos na fila por esse certame nacional, nove vezes vice-campeão (1967, 1968, 1987, 1988, 2005, 2006, 2009, 2020 e 2022), fazer a volta olímpica...
Mas que seria divino, maravilhoso, um time de um estado destruído pela enchente alcançar a taça…
Chego a ficar arrepiado sonhando.