Acho que o Grêmio, neste ano, não vai cair pela quarta vez, apesar do retrospecto de dez derrotas em 15 jogos, saldo negativo de dez gols e pífios 24% de aproveitamento. E é um colorado que está falando — óbvio que, com o meu clube, sou muito mais crítico, não desfruto de igual racionalidade e não tenho o mesmo sangue doce.
Quando Renato Portaluppi diz que tudo está sob controle, talvez não seja mentira ou desespero. A verdade é que Grêmio permanece vivo em três competições, como poucas equipes no Brasil. E não é possível esquecer que as agremiações de Porto Alegre foram seriamente prejudicadas pelo maior desastre ambiental do Rio Grande do Sul, impedidas de usar os seus estádios e centros de treinamento.
A enchente não é uma desculpa, mas um rombo realista no planejamento e no orçamento.
Quem assistiu ao segundo tempo do tricolor diante do São Paulo sabe que a derrota teve um caráter injusto, que não revela a contundência do ataque. Houve uma coleção inacreditável de gols perdidos.
Teoricamente, o Grêmio tem duas rodadas a menos, o suficiente para sair do Z4.
Em face da falta de sorte, o que vejo é a necessidade da disciplina. A entrega é o único caminho da redenção. Não parar de fazer o certo quando ele não funciona. Não parar de tentar quando a bola não entra. Não parar de se dedicar aos detalhes quando o conjunto não vinga.
Lembro-me da história do centroavante Baltazar, o goleador de Deus, um dos primeiros jogadores a se declarar Atleta de Cristo no país, justamente contra o poderoso São Paulo, que tinha seis jogadores da seleção na época, na estreia do Grêmio em finais do Brasileirão, em 1981.
No jogo de ida no Olímpico, Baltazar errou um pênalti, bateu literalmente para fora. O Grêmio venceu por 2 a 1, mas poderia ter colocado a mão na taça com uma goleada.
No final da partida, ele deu um depoimento sem um pingo de coitadismo:
— Deus está reservando algo melhor para mim.
Não era alguém arrasado, não era alguém pessimista, não era alguém que culpava a si. Havia em seu posicionamento uma expectativa de vencedor, uma prévia do maná, de que tudo estava ainda por acontecer.
É quando a esperança é maior do que as imperfeições. É quando a esperança não deixa de ser almejada mesmo no momento obscuro de desânimo. Até porque o fracasso ou o triunfo são sempre provisórios num esporte feito de eternos recomeços.
Ele tinha na cabeça o versículo: “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.
Não é que, no confronto de volta no Morumbi lotado, Baltazar marcou um golaço no ângulo de Waldir Peres? O arqueiro ficou absolutamente parado, sem reação, com aquele chute cheio de curva de fora da área.
Com três temporadas no clube, encontrou ali o seu auge, garantindo o primeiro título nacional para o Grêmio.
Não esmorecer consagra os esforçados, os crentes, os devotos.
As palavras têm poder. Você atrai o que professa.
Se passa a confiar que será rebaixado, atua sem querer para esse propósito. Chama para si as dificuldades, redobra o peso dos adversários. O medo aumenta a distração e os atos falhos.
Se passa a confiar que é uma fase, a pedra no caminho se converte num degrau.
A escada está ali, onde todos apenas enxergam uma goleira.
Só faço uma ressalva. Se você é gremista, jamais daria crédito a um colorado.