Já me senti enganado, muitas e muitas vezes, pelas redes sociais. Ontem mesmo. Anteontem também. Infinitas vezes.
Seguia alguém que tinha como exemplo e descubro que o sujeito não fazia nada do que professava. Era o contrário do que ostentava.
A desilusão vem acompanhada de arrepio e náusea: como é capaz de mentir descaradamente? Como é possível fingir tão bem? Como ensina o que não pratica? Como não sofre de culpa? Como não experimenta nenhum alerta da consciência? Como não tem receio de ser desmascarado? Que impunidade de alma é essa?
O que me impressiona é que o indivíduo não era nem discreto com a sua aparente bondade, exagerava seu heroísmo ao extremo.
Embora eu seja um gato escaldado, caio nas armadilhas ilusionistas da web e me assombro de novo.
São lobos em pele de cordeiro formando rebanhos digitais, com milhões de desavisados. São pessoas fake news.
É um casal perfeito que prega sermões de fidelidade e lealdade e logo se torna manchete de traição por uma das partes. É um bom moço que critica a todos e depois é acusado de golpes. É gente que se diz reta, de caráter, de família, e possui uma longa ficha criminal. É uma celebridade que jura amor eterno para o seu par e depois acaba envolvida em denúncia de violência doméstica. É um profissional que defende a simplicidade, mas trata os colegas com arrogância.
Não tenho como prever. Mesmo que você faça uma exaustiva pesquisa no Google antes de seguir um perfil, existirão segredos de Justiça. Nunca saberá tudo a respeito do outro.
Não dá para confiar na vitrine sem espiar dentro da loja. Não dá para confiar em sorrisos sem espiar como está o rosto dos familiares. Não dá para confiar em baladas, carros de luxo, casas com piscina, praias privativas, pois a felicidade acontece em secreta honestidade.
Quem dança e pula eufórico numa multidão pode estar adoecido de letal solidão. Quem vive um matrimônio com poses de domingo pode estar assinando papéis de divórcio. Quem se mostra aventureiro pode estar controlando crises de pânico à noite.
É a síndrome de Anthony Bourdain. O chef e crítico gastronômico americano, que viajava o mundo provando pratos exóticos, bonito, culto, inteligente, simpático, sempre sorridente, reverenciado por onde passava, apresentador de programas influentes na CNN e na Travel Channel, dono de um patrimônio que chegou a 60 milhões, um ídolo da culinária, não resistiu à depressão aos 61 anos. Todos desejavam a sua vida, menos ele.
Não tenha inveja de ninguém. Dispense esse desperdício de tempo na sua rotina.
Fortaleça amizades reais na virtualidade. Acompanhe seus amigos do cotidiano no Instagram e Facebook, ajude-os em seus negócios, repasse seus links ainda que não precise de nada daquilo, comente nos posts, elogie e incentive com likes, comemore seus passeios e afazeres, apareça com frequência até que eles se percebam amados.
Acima de tudo, privilegie quem está ao seu lado, quem você conhece de fato, no íntimo, nas situações mais banais e triviais do dia a dia, ao invés de conferir credibilidade a quem jamais conversou com você.