Com a tragédia da enchente no Rio Grande do Sul, vivemos um descompasso na área de educação. Não existe uma uniformidade. Pela primeira vez na história, experimentamos uma situação caótica, provisória e anfíbia. Cuida-se de cada escola em particular, das condições para que volte a funcionar.
O calendário está fracionado. Há escolas intactas, mas sem quadro de professores, já que todos os profissionais perderam suas casas (a exemplo da EEEM Américo Braga, no bairro Sans Souci, em Eldorado). Há escolas destruídas com professores a salvo. Há escolas ativas em cidades não atingidas.
Não é possível pensar na aplicação de um único regime presencial. O momento é de estancar a hemorragia pouco a pouco nos municípios afetados, inclusive adotando o ensino remoto e on-line em alguns casos.
Apesar da ansiedade dos pais e natural pressão pela retomada das aulas, pois se trata de um serviço essencial para a restauração da normalidade, exige-se bom senso mais do que paciência.
De acordo com levantamento da Secretaria de Educação do RS, são ainda 1.066 escolas estaduais danificadas em 251 municípios, abrangendo 29 Coordenadorias Regionais de Educação.
Corre-se para preservar o ano letivo, sem prescindir de acolhimento e merenda.
A retomada vai acontecer, está acontecendo.
No início da calamidade, 88 escolas serviram de abrigo aos flagelados, com a transformação das salas em dormitórios. Agora o número caiu para 54.
Os avanços se desdobraram em tempo recorde, tendo em vista o tamanho dos estragos. Do nosso total de 741.831 estudantes, 514.607 retornaram às atividades. Isso representa 69,4%, uma proeza em meio a um ciclone de perdas.
Falta integrar 227.224 alunos (30,6%), dos quais 86.921 ainda não têm data prevista de recomeço, em cidades como Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande, Canoas, Nova Santa Rita, Alvorada, Cachoeirinha e Gravataí.
O contexto de improviso diante da destruição revela-se desafiador. Em Roca Sales, professores lecionam no salão da igreja. Nas ilhas, procura-se terreno próximo e seco para montar escolas de emergência. Vem sendo feito cruzamento de contatos com os abrigos para localizar matriculados. Criou-se um novo sistema de registros, pois grande parte das comunidades ficou sem internet e telefone e isolada pela queda de pontes e obstrução das estradas.
Tenho acompanhado o trabalho da Secretaria de Educação na gestão da crise e sua admirável engenharia de reconstrução e reagrupamento. É igualmente louvável o empenho dos professores como intermediários voluntários das suas turmas, buscando notícias, embarcando em botes, cruzando rios, conversando com familiares, fazendo a lista de chamada de porta em porta.
Nunca houve tanta felicidade ao se ouvir “presente” de um aluno, é aquele estar vivo e bem que renova a coragem, que recompensa o sacrifício.