Os policiais civis, desde o primeiro dia na linha de frente dos resgates, tal como os brigadianos e bombeiros, tiveram perdas incalculáveis e realizam vaquinhas para repor casas destruídas pelo maior desastre ambiental da história gaúcha. O auxílio não deve surgir apenas da solidariedade de dentro dos quadros, mas deve vir de cima.
Os únicos atenuantes para mitigar os danos materiais foram a antecipação do 13º salário e a suspensão da cobrança dos empréstimos consignados por três meses.
Ainda é pouco para inspetores e escrivães, por exemplo, recuperarem seu imóvel destruído pela enchente.
Até o momento, são 248 servidores desassistidos, sem lugar para morar. Mesmo desabrigados, eles seguem trabalhando.
É necessário sensibilizar governos estadual e federal para o limbo desses profissionais, que tampouco podem sacar o FGTS ou se enquadrar no programa Minha Casa, Minha Vida.
A alternativa é criar com urgência uma linha de crédito diferenciada, com juros menores.
E assim defender quem nos defende na segurança pública. E assim garantir o mínimo para quem se arrisca ao máximo no combate das ruas.
Não faz sentido que aqueles que mais se dedicaram a salvar vidas na guerra contra as cheias, no patrulhamento incansável e intermitente entre escombros, não tenham esperança de reaver o seu lar e suportem a incerteza dos próximos meses.
Não existe como engolir a seco o coração com filhos perguntando “para onde vamos?” ou cônjuge questionando “o que faremos?”.
“Vocês vão ter que nos ajudar, porque será difícil”, é o que tem dito o policial Gustavo Quatrin aos dois enteados. Após sua residência submergir no bairro Fátima, em Canoas, não consegue fazer nenhuma promessa para as suas crianças.
Trata-se de uma insalubridade emocional, muito além do efeito nefasto de uma crise coletiva e inédita.
E não há trégua nem folga no meio do pânico, não há como refletir e inventariar prejuízos pessoais. Seis mil policiais em exercício — e mais 260 aposentados, que receberam convocação — encontram-se na ativa, deixando suas famílias nas casas dos parentes, mobilizados a prevenir saques e roubos, zelar pelos abrigos, localizar desaparecidos, manter a ordem e desarmar quadrilhas de golpistas.
Isaac Ortiz, presidente do Sindicato dos Agentes de Polícia do RS (Ugeirm), diz que é treinado para aguentar o próprio sofrimento, mas que nenhum policial resiste a ver um colega em apuros. As lágrimas escorrem ao natural, junto do suor.
O hotel do sindicato apenas comporta trinta pessoas, e é feita uma triagem angustiante, dando preferência ao acolhimento de quem está pior.
Mas como saber exatamente quem está pior?
O lema da Polícia Civil, “servir e proteger”, tem que ser usado também para seus integrantes.