O cantor Caetano Veloso, 81 anos, pediu em post no Instagram para não ser incomodado por “amigos, colegas, conhecidos e desconhecidos” depois que encerrasse a turnê Meu Coco, na Concha Acústica de Salvador, na Bahia.
Avisou que entrará em período de “férias radicais”. Buscou secar e bloquear a sua fonte pública de contatos. Não quer dar entrevista, opinião, palpite; não deseja que venha solicitação de texto ou de vídeo.
Foi um desabafo tentando sensibilizar, um pedido “sobretudo àqueles que sabem que mais me tocariam com seus chamados”.
A que ponto chegamos?
Antes você entrava em férias e colocava apenas uma mensagem automática em seu e-mail ou WhatsApp. Isso não é mais suficiente.
Há tintas de desespero na atitude do nosso octogenário músico, que merece paz pela sua intensa carga de compromissos assumidos durante o ano. Apesar da idade avançada, ele também realizou uma série de shows comemorativos do seu sexto álbum na carreira, Transa, gravado em 1971 no Chappell Recording Studios, em Londres, durante seu exílio político, e lançado pela gravadora Philips em janeiro de 1972.
Como as redes sociais não param de multiplicar demandas, comentários, ele não viu outra solução senão um aviso escancarado de recesso, detalhando todos os casos que não serão atendidos.
O ato, a princípio, parece exagerado e antipático, mas ele está coberto de razão: não deixa de ser um protesto pontual do ícone, uma denúncia do bombardeio de informações de nossa época, indicando o alto grau de submissão virtual a que estamos sujeitos.
Será que não perdemos o bom senso e ultrapassamos as fronteiras da indiscrição, confundindo pessoas com avatares, acreditando na obrigatoriedade de uma disponibilidade ilimitada?
Será que não nos tornamos paparazzi compulsórios, obcecados por selfies a qualquer momento?
Pois não adianta mais postar uma mensagem de retirada off-line por um período. A inatividade já não é respeitada. Pereceu a ideia sagrada de privacidade. Ninguém pode sumir sem oferecer explicações prévias.
Basta um dia de ausência de interação ou de publicação nas redes, e vira um caos a vida da celebridade. Surgem desconfianças e boatos de que ela desapareceu, ou adoeceu, ou vem sendo esnobe, e se inicia uma caça para fotografar sorrateiramente o seu paradeiro.
Os fãs, por sua vez, percebendo a sua trégua profissional, tendem a achar que agora o artista se encontra livre para responder a mensagens pessoais e encomendas afetivas.
Caetano não determinou o tempo de seu lazer, mas deve se estender até sua apresentação em 1º de março de 2024, na nossa capital gaúcha.
Teremos a chance de aplaudir um Caetano relaxado, pronto, returbinado, novinho em folha.
Os seguidores precisam entender os efeitos colaterais da superexposição.
O simples descanso não serve, hoje é caso de radicalizar o lazer em detox.