O churrasco gaúcho ficou em sexto lugar na lista da TasteAtlas deste ano, uma enciclopédia virtual que faz um ranking de pratos e alimentos de todo o mundo.
Não vejo problema em perdermos para as tiras de carne japonesa, temperadas com shoyu na grelha. Ou para o xixo russo, chamado de shashlik, um prato típico do Cáucaso e da cultura eslava —, que, nada mais, nada menos, é um espetinho de carne com vegetais.
Mas não admito estarmos atrás do asado argentino.
A desvantagem com a cozinha de fogo do outro lado do planeta não dói, mas com a do nosso vizinho na América do Sul nos queima de raiva e injustiça.
Pelo jeito, os jurados nunca foram na Giovanaz, restaurante na Venâncio Aires, em Porto Alegre. Aquilo que é churrasco de verdade, sem sal do Himalaia, sem pimenta, sem condimentos de butique, com a carne pingando apenas pela magia xiru do sal grosso.
Não encontrará fotos dos tipos de carne oferecidos no cardápio, pois não há cardápio.
Churrasco é na mesa, para descobrir na hora, no assalto do espeto pelas suas costas.
Você pisa no chão engordurado e já sente que adentrou num santuário das brasas, do vermelho malpassado.
Chão limpo não combina com o vaivém dos garçons e suas facas afiadas.
Cuidado para não deslizar. Ande com calma, passo a passo no seu apetite. Como se fosse rezar na igreja. Se escorregar, culpe o tênis ou o sapato, jamais a limpeza do local.
Giovanaz é o nosso cartão de visita: quadros de natureza- morta na parede, biombo de madeira no pórtico do banheiro, toalha de mesa de papel, pote branco de farinha, salada de maionese caseira e pratinhos menores que servem de cemitério das sobras.
É uma churrascaria de estrada no centro da Capital. Para não demorar a voltar para casa, deitar-se no sofá e bodear a digestão.
Você come até passar mal. Até dizer “basta”. Até confessar seus pecados. Até abrir o cinto discretamente.