Eu escuto o povo porto-alegrense dizendo que, no final de semana, frequentou a Redenção, o Parcão, o Gasômetro, a orla do Guaíba, o Parque Marinha do Brasil, mas ninguém fala que foi ao Jardim Botânico. É o endereço mais subestimado de Porto Alegre, mesmo sendo um dos cinco maiores jardins botânicos do país.
Talvez o abandono tenha suas raízes nas polêmicas vividas pelo Governo Sartori (2015-2019) com a extinção da Fundação Zoobotânica. Na época, o desmonte tinha como objetivo enxugar a máquina administrativa e economizar R$ 19,8 milhões por ano, usando como justificativa que a entidade era deficitária, já que captava menos de 10% da receita necessária para sua manutenção.
Desde então, existe um projeto de sucateamento do espaço e esvaziamento de equipe técnica e científica. Ou seja, o descuido gradual e constante, a negligência com o patrimônio servem para corroborar a sua inoperância e atender ao único propósito de repassar o Jardim Botânico à iniciativa privada.
O que se mantém longe dos nossos olhos permanece distante do nosso coração. Não nos mobilizamos contra o atentado ao nosso viveiro porque não nos fazemos presentes e assíduos como visitantes.
Quantas vezes você esteve no nosso Jardim Botânico?
Eu confesso a minha limitação. Posso somar 10 visitas ao longo da minha vida, quando a minha aparição bem que poderia ser mensal. E nem há como culpar o valor do ingresso (R$ 6), sendo que crianças de até 5 anos não pagam, e aposentados e estudantes desfrutam do direito de meia-entrada.
Dessa forma, ignoramos o nosso laboratório de vida a céu aberto e desprezamos a atividade de pesquisa realizada há 65 anos. Estamos perdendo a oportunidade de frequentar um lugar mágico para as crianças, para os casais, para matear com a família. São 39 hectares, com trilhas, lagos e canteiros.
Trata-se de um programa imperdível para quem ama orquídeas ou cactos.
Excursões de escola têm a rara chance de ultrapassar a teoria, visualizar o conteúdo e receber aulas práticas de biologia. No Museu de Ciências Naturais, há centenas de bichos empalhados. Existe ainda o serpentário, para conhecer de perto as mais variadas cobras. O local abriga também mamíferos, répteis, anfíbios e peixes, mais de 100 espécies de aves, além das cerca de 3 mil espécies de plantas.
É possível montar um piquenique, comemorar um aniversário com os amigos debaixo das árvores, adquirir mudas raras de plantas.
Para se ter uma noção, 65 mil pessoas visitam o nosso Jardim Botânico por ano. Já o Jardim Botânico de Curitiba recebe anualmente 1,8 milhão de pessoas. A população de Curitiba é somente 30% maior do que a de Porto Alegre, mas a visitação ao semelhante ponto turístico é 27 vezes maior na capital paranaense.
Fique alerta: o parque está aberto de terça a domingo, das 9h às 17h. Veja o que temos disponível antes que o jardim seja novamente leiloado.