Eu vejo cada vez mais a glorificação da vingança nas redes sociais, a necessidade de lacrar.
Vingança é quando você quer que o outro sofra igual a você, ou até mais do que você, obtendo um estranho e despropositado lucro na dor.
Permeia a postura um sentimento de soberba, de arrogância, como se humilhar a quem discorda de nossa crença ou ideologia fosse sempre justo.
Não acontece uma resposta equilibrada, mas abusada ironia, insaciável sarcasmo, uma vontade de calar a oposição de qualquer jeito.
Combatendo a represália, há a iluminada empatia, que é não querer que ninguém mais sofra o que você sofreu. Já basta o seu sofrimento. Tudo o que faltou na conversa de MC Pipokinha com seu público na segunda-feira (6). A funkeira catarinense debochou da profissão de professor após seguidor revelar que discutiu com docente para defendê-la em sala de aula.
Ela poderia ter compreendido as ressalvas de alguém que não gosta do seu trabalho, ou que acredita que ele é apelativo, com canções carregadas de palavras chulas. Não há nem como aqui destacar algum trecho completo de uma de suas músicas. Jamais será de classificação livre. Em Bota na Pipokinha, ela incentiva: “Bota, bota o bigode na minha x…”.
O educador reconhece a diversidade dos movimentos sociais e culturais, mas não é obrigado a pagar pau, venerar, endeusar um estilo de que não é adepto. Aliás, ele tem o propósito de cuidar da norma culta da língua (juro que não pensei em fazer trocadilho).
Só que MC Pipokinha foi revanchista. Parece não conviver bem com a divergência. Em vez de criticar a verdadeira obscenidade do salário dos professores, que deveriam receber mais pela sua influência construtiva na sociedade, tratou de escarnecer os vencimentos como cabal prova de infelicidade.
Deu um show de ofensas, desmerecendo uma categoria inteira.
Talvez tenham cabulado as aulas de dignidade, pois vivem pipocando de polêmica a polêmica para preencher inutilmente a alma vazia dos holofotes.
Para o fã, recomendou o plano esnobe da indiferença:
“Não discute com a professora não, tadinha. Não discute não, porque ela pode descontar a raiva em você, mandando você fazer vários trabalhos, te reprovando na prova”.
Não bastando o circo da zombaria, logo se colocou num patamar superior, revelando que ganha R$ 70 mil por um show de meia hora. “Trinta minutinhos em cima do palco, eu ganho R$ 70 mil. Ela não ganha nem R$ 5 mil sendo professora, às vezes”, completou.
Existem artistas que confiam mesmo que dar certo na vida é acumular sucesso, dinheiro e milhões de seguidores. Oferecem um exemplo equivocado às novas gerações, confundindo o seu transitório palco com a perenidade das lições de uma lousa.
São eles que geram pena. Êxito mesmo, pelo contrário, é ter respeito.
Talvez tenham cabulado as aulas de dignidade, pois vivem pipocando de polêmica a polêmica para preencher inutilmente a alma vazia dos holofotes.