Duas atividades estão em extinção. Na minha meninice, exerciam uma grande influência social. Tínhamos que aprendê-las para não passar vergonha diante dos amigos.
Uma delas era fazer bola com chiclete. Até estourar. Para chamar atenção de todos. Havia até concurso no recreio de quem inflava a goma de ar por mais tempo, retardando a explosão pelo rosto.
Hoje criança mal masca chiclete. Virou um hábito maldito, espécie de cigarro da infância. As balas venceram o concurso de doçura e ainda resistem entre os pequenos, com aquela ressalva contra o excesso para não estragar os dentes.
Na minha época, não importavam as ameaças macabras dos pais, não surtia efeito quando diziam que nossas tripas ficariam coladas com tanto chiclete. A goma representava um ato de independência. Mantínhamos o chiclete durante a aula inteira. O gosto de tutti frutti ia embora, mas não desistíamos de mascar por malandragem.
Coitadas das mesas e das cadeiras da classe, nossos cemitérios de massinhas grudadas nas suas tábuas internas.
Uma segunda prática do cotidiano que desapareceu do nosso convívio é o assobio.
Existia o assovio — para chamar alguém ou parar um táxi ou ônibus na rua — e o assobio — para acalmar a ansiedade com a música. Ambos se mostravam imprescindíveis para impor identidade e não ser debochado como inexperiente pela turma.
Os pais permaneciam de fora dos assuntos mundanos. Os avós cumpriam o papel de professores, ensinando onde colocar a língua e como usar os lábios. Davam lições de canto aos seus netos. Talvez por estarem na velhice e mais próximos dos anjos.
O conservatório caseiro exigia algumas fases. Iniciávamos imitando os pássaros, depois decorávamos trechos do hino nacional, em seguida entoávamos Trem das onze. Nesse momento, já podíamos nos apresentar em público e testar se as outras pessoas reconheceriam a canção ou se somente nós acreditávamos na existência dela.
A última etapa da transformação do sopro em melodia consistia em praticar o repertório do Braguinha, como Carinhoso, Pastorinhas e Touradas em Madri. Você começava com as aves e terminava com João de Barro, nosso compositor mais assobiado, nosso pássaro das letras.
Assim educávamos o fôlego e nos qualificávamos para o namoro. Não tinha como beijar na boca sem assobiar antes. Você poderia correr o risco de perder o ar no primeiro encontro.