Daniel Scola não somente nasceu de novo, mas também conseguiu a proeza de nascer ainda melhor.
Reuniu todo o rock metal que ouviu na adolescência para enfrentar o câncer. Encheu os ouvidos da doença com Motörhead, Led Zeppelin e Black Sabbath. Se o medo queria pauleira, ele não economizou os riffs da guitarra.
Foram dezenas de sessões de radioterapia e quimioterapia. Zerou a cabeça como um bebê. Teve que reaprender a andar, a falar, a segurar garfo e faca, a equilibrar o olhar, a conquistar a sua independência.
Ao retirar o tumor no cerebelo, seu coração só cresceu.
O que estamos vendo aqui é um homem insaciável pela vida. Filho de Rubens, gerente de recursos humanos, e Cecília, dona de casa, ele usou toda a sua imaginação forjada em livros, filmes e LPs para suportar a penúria da realidade.
Sempre esperávamos muito dele, do repórter sério e compenetrado, com duas coberturas de eleições presidenciais americanas nas costas (2004 e 2008), do comentarista lúcido e educado no Gaúcha Atualidade, do articulista curioso e atraído pelos grandes eventos da história da humanidade nos textos de ZH, do pai zeloso de Joana, do companheiro apaixonado pela Gabriella.
Mas nenhuma ambição chega perto da sua humildade para recomeçar. Ele é grande porque é simples. Ele é forte porque é sensível. Ele está vivo porque é teimoso.
Nada o assusta. Buraco é apenas um jogo de cartas muito praticado em sua Caxias do Sul. Levantou-se do fundo do poço trazendo baldes de esperança nos olhos.
Se ele concluiu que tinha duas vidas, enganou-se: tem todas as nossas vidas ao lado dele.