Todo mundo vai querer escrever o nome dele nas costas da camiseta amarela.
Finalmente temos o que faltou nas Copas de 2014 e 2018: centroavante com estrela. O matador. O iluminado. O oportunista. O magneto. O furacão do ouro olímpico. O pombo do Espírito Santo. Quem está no lugar certo da pequena área, no tempo certo da bola, atento a rebotes, antecipando-se à marcação. Quem trabalha todos os fundamentos: cabeçada, drible, finalização, marcação e assistência.
Em oitenta minutos, Richarlison já fez mais gols do que os dois últimos camisas 9 nas copas anteriores (Fred assinalou um gol em 2014, Gabriel Jesus passou em branco em 2018).
O capixaba, reconhecido artilheiro da Premier League, contratação recente do Tottenham por 50 milhões de libras, ofuscou Neymar na estreia da seleção contra a Sérvia. Até então era Neymar a maior promessa de brilho e de desconcerto, mas saiu de campo lesionado, com tornozelo contundido e é dúvida agora na fase de grupo.
Richarlison realizou o básico e o desbunde. Marcou em sobra de bola e depois num voleio impactante. Teve somente duas chances na partida, e não desperdiçou nenhuma delas, diferentemente de Raphinha.
Foi cem por cento de aproveitamento com fome de glória.
E o seu voleio, meus senhores e senhoras, é uma pintura alada de Portinari. Um jardim de Burle Marx. Um edifício de Oscar Niemeyer. Ele não deu uma tradicional bicicleta, mas dominou antes do zagueiro e inventou um jet ski no ar, sem oferecer chance para o arqueiro da Sérvia Milinković-Savić.
O Brasil promete. Porque parece que não tem mais aquele deserto de criatividade no enfrentamento e na infiltração dos ferrolhos adversários. Talvez tenhamos novamente um goleador na competição, depois de Ronaldo Fenômeno, com oito gols em 2002. Sempre que contamos com um centroavante de ofício, de Vavá a Jairzinho, de Romário a Ronaldo, levamos o troféu.
Ainda é cedo para prever, mas não para acreditar. Com uma carreira praticamente construída na Europa, Richarlison se encaixou no esquema do Tite como ponto de referência da armação.
Ele, que encontrou o primeiro grande título com o Brasil, na Copa América 2019, revelado pelo América (MG), tem em seu percurso o gosto pela resiliência. Salvou o Watford e o Everton do descenso. Neste último, em 2018, virou o ídolo da torcida depois de evitar a vexatória queda com a marca de dez gols.
Enquanto Argentina e Alemanha tropeçam e rezam, enquanto Uruguai despreza Arrascaeta, o melhor meia no Brasileirão, a seleção canarinho selou as pazes com a esperança.