Não tinha como ser gol de atacante. O gol redentor contra a Suíça fechada, recuada, aferrolhada só poderia vir de trás, de alguém improvável, aparecendo de repente, sem marcação.
Quem chamou a responsabilidade para si foi Casemiro, o volante faz-tudo, o carregador de piano, que conferiu um efeito hipnótico à bola. O goleiro suíço Yann Sommer abriu a bocarra de espanto e não saiu da sua imobilidade de samambaia.
Uma recompensa à “sombra” da seleção, ao alicerce, a quem limpa as sujeiras e os erros do sistema, corrige as falhas dos seus colegas, recoloca o time na marcha certa.
Se Zinho em 1994 era a enceradeira do tetra, Casemiro é o robô-aspirador rumo ao hexa.
O Brasil não tem dependência de Neymar, não tem dependência de Richarlison, não tem dependência de Vini Júnior, mas depende essencialmente de Casemiro: é o eixo mais importante do esquema tático de Tite, o Cristo Redentor da zaga, o São Jorge do meio de campo, o elo de ligação do quebra-cabeça, o encaixe do Lego canarinho.
Guardo a convicção de que não teríamos perdido para a Bélgica, tombando nas quartas de final na Copa da Rússia em 2018, se Casemiro não tivesse sido suspenso. Sabe aquele jogador que você não nota na vitória, mas de que sente falta na derrota? Casemiro cumpre um papel imprescindível de liderança técnica. Sem ele, há um rombo, um vazio, uma lacuna irreparável. Thiago Silva é o capitão honorário, Casemiro é o poder agregador na prática.
Ele não realiza unicamente a cobertura, mas oferece a prevenção. É o nosso SUS, nosso sistema de proteção, nossa saúde emocional.
Tanto que é estimulado por desafios. Deixou o conforto do Real Madrid, onde ganhou tudo o que sonhava (cinco Ligas dos Campeões e três Mundiais), para reiniciar a carreira no Manchester United e se aventurar na Premier League aos 30 anos.
Pode-se dizer que a seleção brasileira não tem encantado, como a da França ou a da Espanha, mas não dá para desmerecer que ela sobrou nos primeiros confrontos e tem ainda muito a oferecer. Vem sendo competente com inquestionável segurança. Jamais havia vencido Suíça numa Copa — obteve um empate de 2 a 2 na Copa de 1950, e de 1 a 1 em 2018. Portanto, acaba de quebrar um tabu.
E Suíça não é mole, seria dureza para qualquer favorito. Já derrubou o plantel campeão francês numa Eurocopa. Costuma armar uma ratoeira por um lance.
Os pessimistas estão mais otimistas, os otimistas ainda mais ufanistas. Só precisamos nos acostumar a comemorar o gol depois do VAR. Para não morrermos de ataque cardíaco por um impedimento.