Repare: todos os panos de chão de sua casa são peças masculinas. Não há nenhuma peça feminina. Só as roupas dos homens servem para limpar o chão e esfregar a casa. Só elas são aposentadas nos baldes.
Mulher jamais deixa seu figurino atingir a degradação total, a decadência irreversível. Por mais que o seu closet seja imenso, conhece o estado de cada uma de suas compras.
Já o homem, por mais que seu armário seja enxuto, desconhece as condições de suas vestimentas. Ele parte ao trabalho sem se preocupar sequer com o tamanho das suas camisas. Não perde tempo trocando presente de número inadequado na loja.
A verdade é que o homem desconsidera a necessidade de ajustes. Se tem uma camisa larga, sai de bata. Se tem uma camisa justa, sai de baby look. Acredita que o corpo manda nas roupas, não são as roupas que mandam no corpo.
Um exemplo são os seus sapatos. Gasta até a sola furar, até o couro enrugar, até o bico abrir e assobiar “tico-tico no fubá”. Unicamente adquire um novo depois de jogar fora o velho. É uma substituição por completa necessidade, para não andar descalço.
Tanto que o homem não teme os furos das traças — nem poderia, porque é a própria traça. Ele se esquece do que tem, abandonando tudo em sua pele. Não registra as etapas de decomposição do tecido, que rasga de repente na hora de pôr.
Nunca se dá conta do problema, da erosão, no momento de colocar para lavar, passar, dobrar ou guardar na gaveta. No instante de viajar e fazer a mala, não revisa os furos e vincos.
Sofre da síndrome do Incrível Hulk. Ele não sabe o momento de parar de usar algo. Botões caem, colarinho perde a cor, mas não enxerga os sinais. Pensa que pode vestir mais uma vez, e outra vez. Vai permitindo a desencarnação da lã.
A esposa não tem o trabalho de justificar o emprego de qualquer indumentária masculina como pano de chão — já é um trapo. Nem depende de triagem. Vem pronta para lustrar móveis e encerar o piso.
Agora note o quão dificilmente encontrará roupas masculinas num brechó. Há apenas trajes femininos.
São guarda-roupas com destinos diferentes. O fim das roupas das mulheres é o brechó, o fim das roupas do homem é a área de serviço.
As mulheres gastam mais nos shoppings, mas recuperam parte do seu capital com os brechós.
Já os homens não têm nenhum lucro com a reciclagem de sua vida.
Roupas femininas e masculinas
Opinião
Pano de chão ou brechó
Note o quão dificilmente encontrará roupas masculinas num brechó. Há apenas trajes femininos.
Fabrício Carpinejar
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