Ciro Gomes (PDT) não emplaca como terceira via porque vai para a sua quarta eleição. É uma rodovia de ideias um tanto frequentada. Todos já o conhecem. Ouviram falar de seu plano de governo de renda mínima ou de anistia do SPC.
Não surge como novidade, e parece que será ultrapassado ao final da campanha pela Simone Tebet (MDB), que traz frescor aos debates e que já se vê empatada tecnicamente com ele, de acordo com as mais recentes pesquisas eleitorais.
Não que não esteja preparado para ser presidente, não que não seja sério, não que não tenha histórico legislativo e executivo (deputado estadual e federal, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro da Fazenda e da Integração Nacional). A questão é que ele se tornou folclórico. E tudo o que é folclórico vira inofensivo.
Cristalizou-se como um permanente quase, um coadjuvante, não ultrapassando um dígito nas enquetes.
Ocupa um papel específico e restrito de incendiário nas acareações televisivas, com a missão de falar mal de Jair Bolsonaro e de Luiz Inácio Lula da Silva. Tornou-se a pimenta no prato, jamais o prato.
Esperam-se já os seus rompantes e exageros. Esperam-se já os seus insultos e cálculos matemáticos. Espera-se que ele não ganhe as eleições.
Aliás, ele sempre perde a corrida por antecipação, devido ao controvertido voto útil. Na hora H, entre os extremos, o povo se decide por quem é o “menos pior” para garantir ou evitar o segundo turno.
Ciro Gomes está há 24 anos buscando o Planalto, sem se habilitar a nenhum outro cargo eletivo desde 2011 (mais do que um longuíssimo mandato como senador). Seu intento eterno vem formalizando uma nova carreira: o de candidato a presidente. Uma figura assim costuma ser sustentada na entressafra pelas contribuições partidárias obrigatórias, o que não deve ser o caso de Ciro.
Na disputa de 2022, ele abandonou o bom senso da ex-ministra Marina Silva, que parou em sua terceira tentativa (2010/2014/2018), para incorporar a teimosia grandiloquente de Lula. Com a diferença de que o petista ganhou em sua quarta vez, em 2002, o que dificilmente acontecerá ao pedetista neste ano.
Eu votei em Leonel Brizola em 1989. Naquela época, por muito pouco — uma diferença de 0,6% —, ele não foi para o segundo turno. Eu sempre imaginei que o único governador eleito em dois estados diferentes de toda a história do Brasil, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, se estivesse vivo hoje, subiria a rampa e colocaria a faixa verde-amarela no peito.
No entanto, ao reparar no quanto Ciro herdou a lábia irresistível do líder trabalhista, não permitindo que ninguém o interrompa, entrando em intermináveis solilóquios sobre teorias conspiratórias, constato, por tabela, que Brizola nunca chegaria à presidência. Por mais que insistisse.