O sofrimento nem sempre gera aprendizado. Você pode ficar muito pior do que era.
Mediante uma experiência de perda, pode se fechar, isolar-se, ser egoísta. Pode querer reparação, não acreditar em mais ninguém. Pode desmerecer qualquer alegria ao seu lado, não confiar mais na família, ver-se ofendido por Deus, atrasar a sua vida.
Nem todo sofrimento traz lições. Às vezes, você deixa de realizar o que vinha dando certo, por boicote à sua satisfação, para conspirar contra o seu prazer. Não admite estar bem por lealdade a uma ausência. Generaliza o pior.
Mantém uma ideia equivocada da morte, presa aos movimentos terrenos, como se quem morreu ainda estivesse sofrendo.
O morto não sofre mais. Você não precisa prolongar a purgação para honrar a partida dele, para se equivaler no desamparo, para mostrar uma cumplicidade no gemido e no langor. O morto se encontra livre das suas feridas, seco de lágrimas, já alcançou a paz.
A morte é um alerta para você melhorar a sua relação com os afetos que restaram. Tudo o que faltou realizar com quem partiu desperta novos anseios de conexão.
O fim se assemelha a um espelho. O espelho só rebate a imagem, você não tem como entrar nele. Portanto, o ente querido e ausente reflete uma urgência nos mais próximos.
Não adianta nada prantear por um filho morto e esquecer o filho carente pela casa, chorar pela mãe falecida e abandonar o pai lacônico ao lado, desesperar-se pelo sumiço definitivo do irmão e desprezar o outro irmão pedindo amparo na sua frente.
Os mortos nos lembram de cuidar dos vivos.
Se você é passivo com o sofrimento, ele vai fazer o que quiser com você. Vai sugar as suas forças, virar o seu espírito pelo avesso, desidratá-lo até que sobre um pessimismo mesquinho.
Você deve entender que é seu sofrimento, agora ele lhe pertence.
O sofrimento torna-se uma decisão sua. Não há como impedir a dor de chegar (não desfrutamos da onisciência), mas há como impedir que ela seja vazia. Porque uma dor deserta esvazia toda a nossa emoção, toda a nossa gratidão, todo o nosso juízo, toda a nossa capacidade de pensar e reagir.
Não que você irá se curar do luto – o luto não é uma doença –, apenas não estará exclusivamente à mercê dele. Inverterá a lógica da submissão e o colocará a favor de um propósito.
É necessário encarar o sofrimento e perguntar para ele: o que farei com você?
Não existe como bloquear o início da aflição, mas sempre definimos o destino dela.