A toalha de mesa é a bandeira da intimidade.
Expressa o nosso temperamento. Se estamos felizes ou tristes, esperançosos ou acomodados.
É por ela que a visita já entende como andam os ânimos da casa.
Toalhas quadriculadas são de pessoas metódicas. Toalhas com estampas de flores são de pessoas intensas. Toalhas brancas ou pretas são de pessoas práticas.
Tem ainda as plastificadas, que são de restaurantes de beira da estrada, para esfregar rapidamente um paninho com álcool antes da chegada do novo cliente. Dificilmente moradores reproduzem esse hábito, restrito a churrascaria.
Eu adivinhava a alegria materna quando ela puxava da gaveta do roupeiro a toalha vermelha. Já salivava com o banquete, mesmo não conhecendo o cardápio. Não seria um prato qualquer, da rotina. Era o seu modo de comemorar as realizações afetivas.
Jamais subestime o horóscopo do tecido estendido na sala de estar ou na cozinha. Ele anuncia a união ou a desagregação, o divórcio ou a lua de mel.
Ao lembrar de trocá-lo semanalmente, você externa que ama e vem sendo amado, pois o capricho está nos detalhes, Deus mora nas sutilezas, imperam ali admiração, confiança e vontade de viver.
Há quem não substitua a toalha por meses, e alguém desprevenido termina estudando na sala e afundando os seus cotovelos nos farelos frios do almoço.
Há quem nem se importe e demonstre não permanecer muito na própria residência. No máximo, usa o sousplat para fazer as refeições na frente da televisão.
Há quem nem coloque nenhum adereço e proteção e a mesa nua tampouco merecerá um vaso de flores algum dia. É um despojamento que lembra a funcionalidade de um escritório.
Há quem passe um aspirador de mão para não se preocupar com a reposição imediata.
Já eu não temo o trabalho da decoração, gosto de levantar todos os objetos e estender o pano na janela, esperando trazer alegria inesperada para os pássaros. Às vezes, fico envergonhado com o que os meus vizinhos podem achar, receio que me vejam como um desleixado ao despejar a sujeira pela janela. Mas são grãos de arroz, chuva de cascas de pão, miudezas irrelevantes. Eu defendo e perdoo a minha infância.
Só substituo a peça rapidamente quando ocorrem manchas de vinho e de molho. E a toalha vira a camisa de um filho: peço para tirar na hora e unto as regiões afetadas com água quente, bicarbonato de sódio e limão.
Toalha de mesa é família, é saudade, é conversa frequente, é contação de histórias.
O lençol é para dormir, a toalha é para despertar, lugar da fome e da reza, das confidências e dos conselhos, onde você descobre qual é a cor da sua aura.