O céu está roubando os nossos cantores.
Foi assim com Gabriel Diniz, aos 28 anos.
É agora com Marília Mendonça, aos 26 anos, em queda de aeronave numa zona rural da cidade Piedade de Caratinga, no interior de Minas Gerais, nesta sexta (5).
Ambos no auge da carreira, ambos por acidente aéreo, correndo de um show para outro, de uma cidade para outra, a fim de dar conta dos fãs e do malabarismo do tempo escasso.
O sucesso apressa o fim. É muito risco com tanto deslocamento em aviões pequenos.
Não acreditava quando recebi a notícia. Ninguém acreditou.
Marília Mendonça ainda está viva no seus stories.
Como pode isso?
Nem passaram seis horas que postou cenas do seu embarque arrastando a sua mala vermelha — e ela não está mais aqui. Ela não existe mais.
Foram sete anos de carreira com uma intensidade incomum. Conquistou o protagonismo das letras para a voz feminina no sertanejo, um gênero tipicamente masculino e machista.
Não eram mais mulheres abandonadas penando de saudade, mas despejando os homens da relação, dando o troco, justiçando o amor-próprio. Da canção Infiel até Eu sei de cor, o que enxergamos é um “eu lírico” que não aceita mais migalhas. Prefere ficar sozinha do que mal acompanhada. Melhor a lealdade a si mesma do que a fidelidade fingida, contra a hipocrisia, contra a dependência das fachadas.
“E quando se der conta já passou. Quando olhar pra trás já fui embora.”
A menina goiana revelada no coro da igreja, que compunha desde os 12 anos, espalhando o seu cabelo brilhante pelo rosto, com o seu riso “de volta por cima”, não está mais entre nós. Não é possível se acostumar com a sua despedida.
A rainha da sofrência nos deixou sofrendo. E essa dor não tem cura. Não há como mandá-la embora.
Marília não vai envelhecer, nem nosso amor por ela.