Leitor voraz de livros de História e apaixonado por política, o jornalista e âncora do Gaúcha Atualidade, Daniel Scola, teve uma ideia ao perceber que os oito ex-governadores do Estado eleitos pelo voto popular estão vivos e lúcidos.
– Pensei em desafiá-los a rememorarem suas campanhas e a buscarem, nas lembranças, um momento que tenha sido decisivo – conta Scola.
Durante três meses, ele conversou com Jair Soares (PP), Pedro Simon (MDB), Alceu Collares (PDT), Antônio Britto (eleito pelo PMDB), Olívio Dutra (PT), Germano Rigotto (MDB), Yeda Crusius (PSDB) e Tarso Genro (PT). Identificou os momentos cruciais de trajetórias vitoriosas, conforme imaginado, mas o documento produzido em formato de podcast (disponível em GaúchaZH) e apresentado em nove páginas do DOC revela muito mais. Veja algumas pepitas garimpadas por Scola:
Jair Soares e as prévias: “O Marchezan, que estava com medo de o Otávio Germano repetir, no Estado, o que o Maluf havia feito (em São Paulo), que, vamos dizer seriamente, foi comprar os delegados dentro do partido, pois o Marchezan propôs prévias”.
Simon e o luto pela perda do filho: “Fiz uma campanha completamente emocionado, doente, abatido. E, dizem as pessoas, foi quando mais falei com emoção, com dedicação”.
Collares e a infância pobre: “Eu vendia laranjas com o meu pai, em Bagé. Pegava um balaio e ia pela rua principal até o centro para vender laranja”.
Britto e o Plano Real: “Aquilo abriu a possibilidade de a gente colocar no Rio Grande do Sul uma discussão que era a seguinte: havia um momento novo no Brasil, com o real. E no continente, com o Mercosul. E no mundo, com a globalização”.
Olívio e o diário: “No dia 10 de julho é o meu aniversário. Deixa eu ver aqui o que fizemos em 1998 (folheia páginas do diário). Era uma quarta-feira. Às 3h, está anotado que, depois de ver dois filmes na TV, um filme inglês, razoável, sobre a vida de Chopin e Georg Sand, Liszt e Delacroix”.
Rigotto e as pesquisas: “Recebi informação de que uma pesquisa me colocava com um percentual pequeno. E eu tinha caído. Mas não representava o que eu via nas ruas”.
Yeda e o marqueteiro: “A crise foi quando o marqueteiro (Chico Santa Rita) mostrou que mirava só dinheiro... Tomei uma decisão: demiti o marqueteiro. Ali se iniciou a onda que me levou a ganhar a eleição”.
Tarso e o slogan: “O slogan para campanha, que, do ponto de vista da nossa política, representa uma visão programática... Surgiu a ideia: “Rio Grande do Sul, do Brasil e do mundo”. Naquele momento, tive a impressão de que a campanha estava sendo bem encaminhada”.
Independentemente da qualidade de seus governos, são figuras-chave na história contemporânea.
– A ideia é montar um arquivo que seja perene. Daqui a 10 anos, o Memória poderá ser consultado como se consulta hoje – complementa Scola.
Os podcasts com Jair, Simon, Collares e Britto estão disponíveis em GaúchaZH. Na terça, será publicada a conversa com Olívio. Nas próximas semanas, sempre às terças, entram no ar os podcasts com Rigotto, Yeda e Tarso. Além de ouvi-los, recomendo preparar um mate e saborear o DOC. Você não vai se arrepender.