Um mapa azul e vermelho, quase como um Gre-Nal, mas muito menos amistoso e com lacunas a serem preenchidas. Os Estados Unidos vivem uma eleição acirrada e que já está na história antes mesmo do seu resultado. Tem um presidente que desiste no meio da campanha. Um ex-presidente que tenta pela terceira vez. Uma vice que quer ser a primeira mulher eleita para comandar o país.
No caso de Donald Trump, há oito anos falávamos de um outsider que se gabava disso para se apresentar como algo diferente dos políticos conhecidos. Milionário e bem-sucedido, queria servir ao seu país e assim convenceu a maioria dos estados. Kamala, naquela mesma eleição, se tornava senadora pela Califórnia. Quatro anos mais tarde seria a vice-presidente de Joe Biden.
Estive nos Estados Unidos em 2016, quando o mundo achava que Hillary Clinton seria a escolhida. Aqui, de perto, a surpresa foi menor, pois os sinais mostravam que não era bem assim. Nas minhas anotações, relidas agora, tinha a frase de uma pessoa com quem conversei que dizia que queria muito ver uma mulher sendo eleita, mas que não deveria ser Hillary. Nem entre os democratas o nome era acolhido dessa forma.
Assim chegamos a 2024. É muito difícil tentar adivinhar o que vai acontecer a partir da próxima terça-feira (5). Das pessoas com quem falei na chegada a Washington nessa semana, poucas tiveram a coragem de dizer A ou B. Têm suas torcidas, é claro, mas acharam muito complicado arriscar um resultado.
Os americanos enxergam bons e maus motivos dos dois lados. Em Kamala, alguém mais educada, sem ódio, sem discursos contra imigrantes, a favor da democracia. Outro fator que pesa, para o bem e para o mal, é o direito das mulheres ao aborto, defendido pela democrata. Sobre Trump, as bravatas de sempre voltaram a ser ouvidas nesta reta final.
Se a campanha começou com Kamala se destacando, até por ser a novidade em meio à disputa, o republicano logo tratou de trazer suas polêmicas para o jogo, como uma bola de segurança com seu público fiel. Mas também ouvi de quem o escolhe que a economia ia melhor com ele. E esse é um fator acima dos demais: a vida real das pessoas. Quanto elas gastam no supermercado, no aluguel, nas compras da família. No fim das contas, é isso que importa para a maioria.
Eu descartaria as pesquisas para tentar entender que rumo a eleição está tomando. Praticamente todas estão na margem de erro. A essa altura do campeonato, nos resta acompanhar e esperar o resultado, torcendo que seja o melhor para os Estados Unidos e consequentemente para as relações com o Brasil, que estão acima de nomes de presidentes, mas que são impactadas de alguma forma. Os opostos nunca estiveram tão evidentes como dessa vez.