O Brasil iniciou os Jogos Olímpicos de Paris com a convicção de que quebraria seus recordes no quadro de medalhas, seja no número total (21) ou nos ouros (7). Até o momento, são 13 pódios e apenas dois ouros. Mas isso não significa que o desempenho seja ruim.
Em um país onde temos dois esportes, o futebol e aquele que ganha, como disse o vice-campeão olímpico da marcha Caio Bonfim, não é possível criticar o que o chamado Time Brasil vem fazendo na França.
Ainda restam alguns dias de competição. Vôlei feminino na quadra e na areia, futebol feminino, ginástica rítmica, Isaquias Queiroz, revezamento da marcha, skate park masculino e Alison dos Santos são algumas expectativas de pódio, e eles podem nos dar o mesmo desempenho. Mas mesmo que isso não aconteça, nada irá apagar o crescimento do esporte brasileiro.
Mas falta muito para sermos competitivos no cenário mundial. Hugo Calderano e Marcus D'Almeida ainda podem ser medalhistas daqui quatro anos. Mas precisamos mais. É necessário investir e incentivar que se pratique esportes. Para se chegar com uma boa quantidade de esportistas num nível de se pensar em sermos potência, é preciso que se cobre investimento e não resultado em um primeiro momento.
É muito fácil cobrar resultado a cada quatro anos, quando mal se sabe o nome do atleta ou como é praticada sua modalidade. Jogos Olímpicos não são Copa do Mundo. Os Estados Unidos, que dominam o esporte mundial, não fazem esse cenário, que é muito típico do brasileiro: ganhou o ouro é bom, foi prata pipocou, bronze é consolação e qualquer outra coisa é derrota. Quem pensa assim é que é derrotado e joga suas frustrações nos ombros de outros.
O descaso com o esporte no RS
O Rio Grande do Sul se enquadra no cenário que descrevi sobre investir no esporte. Se no Brasil é necessário investir mais para se ter resultados e montar uma política esportiva verdadeira, o nosso Estado é quase uma vergonha quanto ao esporte. Grêmio e Inter têm 90% dos investimentos, e clubes como Sogipa e Grêmio Náutico União lutam para manter o alto rendimento. E não são só eles, outros também fazem o mesmo.
Em um Estado que tem uma das maiores economias do país é inacreditável que, para ser atleta, seja necessário sair cedo de casa para poder ter uma carreira. E isso ocorre porque o esporte no Rio Grande do Sul é negligenciado por governantes e pela maioria daqueles que detém o poder de investir. Mas todos eles aparecem na hora dos resultados para tirar uma foto, afinal precisam parecer que se interessam por algo que mal conhecem.
O desequilíbrio no vôlei brasileiro
Em outras colunas, escrevi sobre o nosso vôlei e antecipei o que está ocorrendo em Paris. Ao falar dos homens, escrevi: "Enquanto a seleção feminina vive uma fase de transição e apresenta jovens jogadoras, com potencial de manter o nível adquirido nas duas últimas duas décadas, a seleção masculina sofre com este processo". Esse foi o diagnóstico de todos, após a eliminação com três derrotas em quatro jogos.
Sobre as mulheres, escrevi que acreditava ser possível sonhar com o pódio e apresentei razões: "O amadurecimento que a Liga poderá trazer para jogadoras como Ana Cristina, especialmente, é algo que poderá ser decisivo no torneio olímpico. José Roberto Guimarães é detalhista e sabe que ajustar o passe ou proteger sua ponteira para que ela não seja caçada pelas adversárias, como foi na semifinal contra o Japão, será o diferencial para chegar a mais uma medalha. No cenário atual, a seleção feminina de vôlei está no mesmo nível de Itália, Estados Unidos, Polônia, China, Turquia e Japão".