O vôlei brasileiro vive momentos distintos. Enquanto a seleção feminina vive uma fase de transição e apresenta jovens jogadoras, com potencial de manter o nível adquirido nas duas últimas duas décadas, a seleção masculina sofre com este processo. Os resultados em quadra têm demonstrado isso. Claro, que como a atenção do público só é maior quando se aproxima a disputa dos Jogos Olímpicos, isso parece ser algo surpreendente. Pelas vitórias nos últimos anos, o esporte adquiriu um conceito semelhante ao do futebol, que hoje carrega muito mais a tradição do que o nível superior aos rivais.
A Confederação Brasileira de Voleibol sabe que isso é um problema para o futuro. Ao menos eu espero que saiba. Avisos não faltam. Especialmente de treinadores e ex-jogadores que vivenciaram o processo que transformou o vôlei no segundo esporte na preferência da maioria dos brasileiros.
Hoje em dia, não temos mais jogadores extraclasse como Giba, Marcelo Negrão, Giovane, Murilo, Nalbert, Tande, Serginho, Renan, Montanaro, William Carvalho, Maurício Lima, Paulão, Carlão e tantos outros que em suas épocas estavam entre os melhores do mundo em suas posições. É o que se vive no futebol. Não temos mais Pelé, Garrincha, Falcão, Rivelino, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Carlos e Cafu.
Nos últimos dias tenho recebido questionamentos ou avaliações de pessoas que viram a seleção masculina perder para Cuba e Itália, na Liga das Nações, e todas são unânimes em dizer que a equipe "não é confiável". E sempre respondo com a mesma afirmação: "Hoje não estamos mais no primeiro nível, somos quarta ou quinta força". Por isso, brigar por medalha será um árdua tarefa para os comandados de Bernardinho.
No começo de março, estive em Campinas para participar de um evento do Comitê Olímpico do Brasil e pude conversar com Maurício Lima, levantador bicampeão olímpico (1992-2004) e uma das perguntas foi sobre quem seria o próximo levantador da seleção, já que Bruninho está prestes a fazer 38 anos. E a resposta foi preocupante: "Sinceramente, não vejo alguém depois do Bruno, é um trabalho que vai ter que ser feito. A gente vai sofrer um pouco depois do Bruno".
A volta de Bernardinho para comandar a equipe masculina não é uma ideia de futuro. Mas sim, foi um ato de "desespero" da CBV. É quase como imaginar que por ser um dos maiores treinadores da história do esporte, ele possa "operar um milagre" e transformar a seleção em um time de alto nível em um "toque de mágica". Em outro paralelo com o futebol é como foi a volta de Felipão para a Copa de 2014. Apostar em um nome que possa ser um escudo para os erros de um ciclo.
O trabalho não vai faltar. Essa é a principal característica de Bernardinho. Metódico, detalhista, com ótimos conceitos táticos, enfim tudo que um grande nome tem de melhor está presente no ex-levantador da Geração de Prata. Mas ele não é mágico. Isso impede o Brasil de ser campeão olímpico mais uma vez? Claro que não. Mas o próprio treinador sabe que hoje não estamos na primeira prateleira, que é frequentada por Itália, Estados Unidos e Polônia, por exemplo. Nossa briga é com França, Japão e Argentina por um lugar entre os quatro.
A seleção brasileira masculina hoje está no patamar de quem pode chegar entre os melhores, mas fruto de muito trabalho. Na atualidade, jogos contra Cuba e Argentina voltaram a ser clássicos de grande dificuldade, algo que há muito tempo não ocorria tamanha a diferença que o Brasil havia estabelecido para os rivais.
E porque isso ocorre? Voltamos à CBV. Como disse, espero que ela saiba todas as causas. A principal delas é evidente. Não temos renovação. O vôlei está concentrado apenas em São Paulo e Minas Gerais, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por exemplo, que sempre foram competitivos sumiram do mapa. A última temporada apresentou a novidade do time de Joinville, projeto de Giovane Gávio, mas ainda é pouco. Descentralizar é preciso. O vôlei precisa disso, assim como investimento na base. Caso contrário o futuro não será promissor.
Sobre a seleção feminina, em uma próxima coluna vou abordar os porquês de ela estar em um nível superior ao da masculina no momento.