Juliano Cazarré está no elenco de Volta por Cima, nova novela das sete da Globo, que estreia em 30 de setembro. O ator gaúcho, natural de Pelotas, conta, com exclusividade à coluna, o que pensa de sua sequência de trabalhos na TV, como será seu papel na trama de Claudia Souto, se declara ao Rio Grande do Sul e conta o pedido inusitado que fez em relação ao figurino de seu personagem, o motorista de ônibus Jayme.
Em dois anos, Volta por Cima é a sua terceira novela seguida. Te assistimos em Pantanal (2022), como o Alcides, e em Fuzuê (2023), na pele do Pascoal. Agora, vem aí o Jayme. Como se refaz de uma trama para outra tão rapidamente?
Olha, em primeiro lugar, eu entendo essa coisa de descansar a imagem. É importante e tal. Mas, para falar a verdade, eu sempre fico vendo os brasileiros todos, que têm duas semanas de férias, um mês de férias por ano. Eu acho que também não posso precisar de muito mais do que isso, não: acabou um, vamos para o próximo. Tem um monte de criança em casa que precisa comer (Juliano e Letícia Cazarré são pais de seis filhos). Uma coisa que ajuda muito a encerrar um trabalho é, justamente, começar outro, começar a pensar naquele próximo desafio. Nada melhor do que um personagem novo para esquecer o antigo, né?
Em entrevistas anteriores, já comentou que gostaria de interpretar um gaúcho, e esse papel chegou. Quais elementos aqui do nosso Estado, além do tradicional sotaque, pretende imprimir no Jayme de Volta por Cima?
Eu falei, cara, vou sugerir fazer um gaúcho, acho que vai ser legal fazer um gaúcho. A ideia foi bem recebida pela direção e, aí, estamos tocando ficha. Tem a coisa das expressões, os comparativos dos gaúchos, que é um jeito do homem do campo sistematizar conhecimento, do tipo "mais ensebado do que telefone de açougueiro" ou "mais faceiro do que mosca em tampa de xarope". Estou colocando isso tudo lá no meio da novela, conforme as situações que o personagem vai vivendo. Muitas dessas expressões, lembrava de ter ouvido alguém falar, de ouvir meu pai falar, outras muitas, eu pesquiso.
E como vai ser a caracterização do Jayme?
O Jayme é um cara que, como eu, usa bombacha quando está em casa, vive de alpargata no pé, chimarrão também. Todos os personagens que trabalham na empresa de ônibus têm uma bolsa ou uma mochila; já ele, tem a mateira. Eu falei para a equipe: "Nem preciso de mochila, esse cara anda só com a mateira". Tomar um chimarrão, às 16h, quando está dando aquela baixada na energia, é a melhor coisa, o chimarrão está sendo um ótimo companheiro. Uma coisa que eu pedi também para a produção, para o figurino, foi para fazer uma camisa do Farroupilha (clube do interior do Estado). E, assim, não é só o Gre-Nal, eu sou de Pelotas e, lá, o Bra-Pel também tem uma baita de uma rivalidade né? A minha família, pelo lado de pai e de mãe, torce para o Brasil de Pelotas, mas sempre achei muito bonita a camisa do Pelotas, principalmente aquelas antigas. O Farroupilha tem as cores do Estado, tem o nome da revolução que nos funda, que nos forma, né? Então, o Jayme, de vez em quando, aparece em casa com a camisa tricolor do Farroupilha. Fizemos uma versão retrô, está bem linda. Quando a novela acabar, quero ficar com a camisa para mim.
Jayme é um motorista de ônibus na trama, ligado ao núcleo principal da nova novela das sete. Ele também vai passar por alguma volta por cima?
Sem querer dar muito spoiler, mas acho que o personagem começa com uma moralidade mais forte, a gente vê que ele é um cara que gosta dos vizinhos, que está preocupado com a família da vizinha, que perde o pai. Então, a gente tem uma ideia de um cara ético e presente na vizinhança. Conforme as coisas vão acontecendo e, muito puxado pela mulher, Tereza (Claudia Missura), eu acho que o Jayme vai dando uma fraquejada na moralidade dele, sabe? Mais para frente, vão acabar se misturando até com os núcleos mais contraventores e perigosos da novela. Vamos ver como a Claudia (Souto, autora) vai fazer isso. Mas lembrando que é uma novela das sete, então é tudo com muito humor, nada é muito pesado: mesmo que o Jayme caminhe por esse lado, vai ser meio que um contraventor, um bandido engraçado, divertido.
A novela fala de reviravoltas. Qual foi a sua principal volta por cima na vida?
A principal volta por cima da minha vida é no aspecto da religião. Eu não faço segredo nas redes sociais, sempre comento isso. O momento da minha conversão, quando eu aceitei Jesus na minha vida, foi também o momento mais difícil da minha vida. Em 2016, por aí, eu estava passando por um momento muito difícil em família, meu casamento estava por um fio, acho que muito por falhas minhas. Vi que aquela vida que eu estava vivendo, uma vida sem Deus, sem oração, não estava me fazendo bem, não fazia bem para a família, não fazia bem para ninguém. Aí, recebi um amigo em casa, que me ajudou a rezar, me ajudou a pedir perdão, eu aceitei Jesus na minha vida. Ainda demoraria alguns anos até chegar na Igreja Católica, que é onde me encontrei, onde amarrei o meu burrinho, onde ancorei o meu barco. Acho que isso fez com que eu vivesse de uma maneira mais leve, em comunhão, em parceria com a Letícia, sabendo que a gente está junto contra todas as dificuldades que podem aparecer. A gente saiu de dois para seis filhos, isso é muito mais trabalho, é muito mais dor de cabeça, mas é muito legal também. Então eu acho que a grande reviravolta da minha vida foi realmente esse meu momento de conversão.
Sente falta de algo que só tem aqui no Rio Grande do Sul?
Das minhas memórias mais antigas, de ver o Galpão Crioulo na casa do meu avô, lá no bairro de Fátima, em Pelotas, que eu sentia muita falta que eu voltava para Brasília, uma terra que não era a minha, que eu aprendi a amar, mas não tinha aquela graça, não tinha aquele frio, não tinha aquelas roupas, não tinha aquele sotaque, não tinha aquela umidade que eu gostava tanto. Um beijo ao povo gaúcho, que eu amo. Tem muito tempo que eu não consigo visitar o Estado, por diversos motivos, inclusive, porque não para de nascer criança aqui (risos). Toda vez que eu quero viajar, nasce um guri novo. Mas fica o meu abraço mais carinhoso para o Rio Grande do Sul, mesmo que eu não esteja aí, o Sul está sempre comigo. Aonde quer que eu vá, levo o Sul na minha cultura, no meu sangue, nas minhas raízes, no meu coração.