Faltavam 10 horas para a estreia do Brasil na Copa do Catar. A nossa equipe já estava no estádio Lusail para uma participação no Bom Dia Rio Grande, na RBS TV. Seis da manhã no Brasil, meio-dia de um sol escaldante no deserto da cidade distante 20 km de Doha, construída especialmente para a Copa. Pelo horário, encontramos o local vazio. Até que ouvimos, de longe, um chamado:
— São brasileiros????
Felipe Cabral e Kevyn Lembecke, que trabalham com Tecnologia da Informação, foram os primeiros a chegar ao estádio. Queriam fazer fotos e vídeos no local ainda vazio. Experientes em Copas, depois do Mundial do Brasil, estiveram na Rússia e agora vivem as emoções de estar no Catar.
Explicaram que viajar para participar desses grandes eventos é uma experiência muito rica, pois além do evento esportivo eles têm a oportunidade de visitar uma cidade pulsante, cheia de vida e energia dos torcedores.
Falando neles, o número só aumentava com o passar das horas nos arredores do estádio. Depois da dupla que "abriu os trabalhos", eu abordava cada camisa amarela que enxergava. Quase não consegui falar português. Palestinos, paquistaneses, indianos, pessoas de diversas nacionalidade chegavam para se unir à torcida brasileira.
Um deles gravava a esposa dançando, ao melhor estilo do nosso país. Quando questionei por que gostavam tanto do verde e amarelo da seleção canarinho, ele disse nem saber. Contou que assiste aos jogos desde a infância e que tem algo no povo e na forma de jogar que o encanta.
— Paixão não se explica, só se sente — completou.
Essa paixão que faz alguém chegar 10 horas antes ao estádio. Para assistir a um jogo.
Que frio!
O dia do jogo da seleção brasileira foi um dos mais quentes desde que chegamos ao Catar, há uma semana. Mesmo no outono do Oriente Médio, a temperatura é alta, daquelas em que um ar condicionado é muito bem-vindo. O suor escorria do rosto quando respirei aliviada o ar fresco do metrô, depois do restaurante onde parei para fazer um lanche imaginando que aquele seria meu último momento de frescor em um dia muito intenso de trabalho. Estava enganada.
Antes de chegar a Doha, tinha lido a respeito dos estádios climatizados e ficava imaginando como funcionaria. Já estive em três arenas diferentes e até agora não tinha percebido essa tecnologia em funcionamento. Quando entrei no Lusail senti imediatamente.
Ao lado do posto de transmissão da Rádio Gaúcha um ar condicionado gigantesco deixava o ambiente gelado. Ao meu lado, Diogo Olivier puxou um casaquinho. Imagino que Maurício Saraiva, sempre friorento, deva ter ameaçado chamar a Fifa para esquentar o ambiente. Eu, que tinha sentido tanto calor durante o dia, morri de frio na arquibancada. Só o pé ficou quentinho. Pé frio em estreia não da né gente?