Só fazia quatro dias que eu estava em casa após o parto quando ouvi da minha mãe: “coloca um tênis e vai caminhar, nem que seja volta na quadra”. A intensidade da vivência com recém-nascido, com todas as emoções que a acompanham, tomava conta de mim.
O puerpério, aqueles primeiros meses de vida do bebê e da nova mulher que se torna mãe, é, por natureza, muito complexo. As mudanças hormonais mexem com o corpo feminino, enquanto todas as atenções precisam estar voltadas para o outro corpinho que depende dela para se alimentar e sobreviver. A insegurança e a exaustão são paralisantes. Até que alguém te tira dali. No meu caso, o chamado da minha mãe para aquela caminhada.
É tudo tão intenso que mesmo que só tivessem se passado quatro dias de convivência, bastaram alguns passos para eu sentir que faltava uma parte de mim ali. Os poucos metros afastada do meu bebê pareciam quilômetros. Os minutos, não mais do que vinte, em que estive longe, se arrastaram como se fossem horas.
As lágrimas corriam no rosto em uma angústia que eu não conseguia explicar de onde vinha. Mas segui. Pensando que aquele momento era importante para mim e para o Martin. Foi bem difícil ter persistência para continuar naquela primeira caminhada. O tempo passou e meu filho já completou sete anos. A questão é: continua complicado.
Obviamente mudaram as motivações. Se nas primeiras semanas de vida doía o afastamento, agora o que pega é a culpa. Dizem que ela nasce com a mãe, o que eu não sabia era que ela crescia na mesma proporção que o filho.
Quando são bebês é porque dependem praticamente unicamente da gente, quando são mais velhos é porque o tempo que passamos com eles vai diminuindo na loucura da rotina de trabalho, cuidado de casa, vida social, família, amigos e autocuidado. No meu caso, o que tem funcionado para tentar melhorar essa equação é encaixar nossas duas agendas.
Para colocar o exercício físico na minha vida, verifico as atividades do Martin e aí faço os cruzamentos. Por exemplo: aproveito o momento da escolinha esportiva dele para correr em volta da quadra, ali mesmo. Poderia ficar do lado de fora, sentadinha, assistindo, mas prefiro otimizar o tempo e ganhar em minutos de saúde.
Organizando bem, dá tempo inclusive de assistir ao fim da aula dele. Na academia, marco minhas aulas no horário em que ele ainda está na escola. Se nada disso funcionar, ainda convoco alguém da rede de apoio para “dar aquela olhada” no pequeno enquanto vou me dedicar à busca incessante por uma melhor disposição física e mental.
Não se identificou com nenhuma das possibilidades? Não tem mesmo com quem deixar a criança? E que tal o filho ser um parceiro na hora da atividade física? Lembro de empurrar o carrinho com mais velocidade para transformar o passeio em uma caminhada mais forte. Se for uma superfície menos trepidante, e a mãe estiver se sentindo bem, vale até uma corridinha. Eu mesma cheguei a participar de provas com o Martin no carrinho.
Quando a criança está maiorzinha, momentos de “brincadeira” podem acabar servindo como exercício físico. Pular, abaixar e levantar, subir e descer escadas, em meio a desafios e muita risada, é a mistura perfeita de diversão e movimento saudável. Há ainda locais, como a academia do Parque Esportivo da PUCRS, que oferecem um espaço de recreação onde é possível deixar as crianças enquanto se treina na academia.
Alguém que está aí lendo pode pensar: tudo lindo, mas um tanto utópico, desconectado com tantas realidades. Pois meu convite, então, é para que, assim como acredito que deva funcionar em todo o processo de maternidade, cada mãe possa buscar a sua forma de manter a atividade física depois da chegada dos filhos. Afinal, também é por eles.