A safra que passou foi histórica no Rio Grande do Sul, mas o cenário traçado para o ano que vem será bastante desafiador para o produtor rural, conforme projeção apresentada pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) nesta quinta-feira (9). A entidade prevê avanço de 0,58% no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em 2022, com o setor primário avançando 1,80%.
Custos elevados, renda menor para o consumo no mercado interno e preços menores em relação ao último ciclo compõem o cenário de dificuldades no setor, respingando no desempenho da economia como um todo.
Na avaliação do economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, as preocupações vão além “de uma estiagem que se avizinha”.
— Passamos a ter custos explodindo em 2021. A safra de 2022 será plantada em custo bem maior e com expectativa de preço apenas 0,6% maior. Significa perda de margem. Além de, eventualmente, colher menos, poderemos ter menor rentabilidade — alertou.
Apesar do cenário posto de maiores dificuldades, a entidade espera para o próximo ano um novo aumento de área plantada, de 3,1% ante a safra passada, com crescimento novamente puxado pela área de cultivo de inverno e alta da produção em 1,8%.
Na atividade nacional, o avanço do PIB projetado para 2022 é ainda inferior ao gaúcho, em 0,31%. Para o economista, preocupa que a renda per capita brasileira esteja abaixo da média mundial desde 2015, o que afeta o consumo da produção nacional. Estima que o país vá precisar de 9,2 anos para alcançar a renda per capita média do mundo antes da pandemia.
— Os produtores vão produzir mais porque ampliaram área e investiram mais. Mas é fato que o principal consumidor é o mercado interno. Para os produtos típicos de produção interna, como arroz e leite, por exemplo, a situação é complicada e a preocupação é maior à medida que não há canal de exportação pra realocar o que o Brasil não está podendo consumir no momento — disse.
Refletindo os números de uma grande safra, a federação estima que o PIB encerre 2021 com avanço de 9,49%, bem acima do resultado nacional, esperado em 4,26%, resposta de recuperação após estiagem. No setor primário, o desempenho da agropecuária na atividade econômica gaúcha fechará o ano com avanço de 42,01%, contra 1,30% na conta nacional.
O recorde da última safra se traduz em números. O Estado registrou aumento de 4,4% de área plantada, puxada pelos grãos de inverno, totalizando 9.483.013 hectares. E aumentou a produção em 43,8% (comparado a um ano de seca), somando 37.631.301 toneladas.
— A safra que passou ficou na história. Não vimos nada parecido e provavelmente não veremos nos próximos anos. Apesar da quebra no milho, foi a maior da história, e por efeito da própria pandemia, houve um aumento dos preços dos produtos agrícolas e isso impactou positivamente o setor — avaliou o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Gedeão comentou que o reconhecimento do Rio Grande do Sul como área livre de febre aftosa sem vacinação foi um avanço importante conquistado neste ano. O novo status, segundo o presidente, garante imagem mundial de que o país produz com qualidade. Mas também citou dificuldades que ainda precisam ser destravadas no Estado, como a questão da irrigação, que “lastimavelmente não conseguimos evoluir”, afirmou.
Na avaliação da entidade, enquanto houver entraves que impedem fazer reserva de água, o produtor gaúcho continuará anotando perdas devido à falta de irrigação.