Muito do charme que casacões, mantas e gorros emprestam para o inverno gaúcho vêm de ovelhas e carneiros criados nos rincões do Rio Grande do Sul, responsável por 98% da lã brasileira. Das fazendas gaúchas saem cerca de 9 mil toneladas por ano, a maior parte endereçada ao Uruguai. Apenas 30% é absorvida pelo mercado interno, segundo o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Ferreira Gressler.
Em Santana do Livramento e Alegrete estão os maiores rebanhos, estimados em cerca de 3,2 milhões de cabeças. Conforme o presidente da Arco, há um movimento da entidade para, em curto prazo, fortalecer o comércio com a China, já que praticamente toda a exportação de lã in natura vai para o vizinho Uruguai.
No Estado, quatro raças se destacam na produção: merino australiano, ideal, corriedale e romney marsh. Essas fornecem distintas espessuras de lã para confecção de camisas, ternos e calças, para citar alguns exemplos. Quanto mais fino o fio, mais valorizado. Outras raças também produzem, mas, como o fio é mais grosso, o valor de mercado é inferior. Essa lã, em geral, é utilizada para jaquetas rústicas, carpetes e tapetes. Mas se engana quem pensa que genética basta para se chegar a altos níveis de qualidade. Alimentação correta, condições sanitárias adequadas e manejo bem feito são determinantes.
— Apenas de ovelhas felizes se retira a melhor lã que ela pode produzir — resume Edemundo.
Tosquia em detalhes
- A primeira tosquia, chamada lã de cordeiro, é feita quando a ovelha ou o carneiro completa um ano. O valor comercial desta lã é menor.
- Depois, entre outubro e janeiro de cada ano, são realizadas as demais tosquias. A partir da segunda, se extrai o velo, pedaço inteiro que compreende a estrutura corporal do animal. Há quem tosquie duas vezes ao ano.
- De cada ovelha ou carneiro criado no Rio Grande do Sul são retirados, em média, 3,5 quilos de lã. A meta da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos é fazer com que os produtores atinjam 5 quilos.
- Um animal pode produzir por até 12 anos, com qualidades e quantidades diferentes ao longo da vida. O ápice é atingido em torno dos sete anos. Depois, começa a curva descendente.
- Com a vida útil esgotada, o animal é abatido. A carne é utilizada para venda ou subsistência da propriedade.
- Há duas maneiras de tosquiar. Com máquina elétrica, o velo pode ser retirado em até quatro minutos. A martelo (tesoura em mãos), entre 10 e 15 minutos.
- Após ser retirado, o velo está pronto para ser vendido, geralmente em sacos.
- Não há diferença entre lã de carneiro ou de ovelha, as demais não são consideradas lã, apenas fios sintéticos.