Por Sergio Schneider, professor de Desenvolvimento Rural e Estudos Alimentares da UFRGS
Há uma resposta simplista – mas equivocada – sobre como alimentar uma população cada vez maior e mais urbanizada: aumentar a tecnologia.
Isso significa aumentar a produtividade e ampliar a oferta tanto quanto seja possível até 2050, quando o mundo terá em torno de 9,3 bilhão de bocas para alimentar. Neste modelo mental, os tratores, e mais à frente os robôs, tendem a substituir a mão do agricultor, tornando a atividade “smart” e de “precisão”.
Mas por que duvidar desta estratégia e dos potenciais ganhos a ela associados, que podem beneficiar tanto as finanças do país quanto gerar riqueza para os agricultores? Minhas dúvidas baseiam-se em quatro argumentos.
Primeiro, o mundo não precisa aumentar a oferta de alimentos para nutrir todos os habitantes. Temos comida suficiente. Segundo, não é líquido e certo que a urbanização fará as pessoas consumirem comida pronta rica em gorduras. A tendência são alimentos frescos, baseados em vegetais, legumes e frutas, oriundos das imediações, de preferência orgânicos.
Terceiro, a agricultura sempre foi sensível ao clima, e o modelo industrial de produzir é muito impactante. A irrigação consome água em excesso. A pulverização com agroquímicos deixa resíduos. Quarto, a agricultura é paradoxal: de um lado, não cumpre o papel de nutrir a população, pois quase 800 milhões de habitantes do planeta ainda passam fome; por outro, 25% da comida produzida é desperdiçada.
Em muitos lugares do mundo, os efeitos e a conta a ser paga pelas “externalidades negativas” do modelo agroalimentar atual são e serão os governos e os “tax payers” (contribuintes). No futuro, no Brasil também será assim. À medida que o preço dos danos se tornar mais visível (como as recentes condenações ao uso do glifosato) e bater no bolso, as queixas dos consumidores, assim como as pressões dos importadores estrangeiros, irão aumentar.
O futuro da agricultura e da alimentação será de agricultores mais conectados às demandas dos consumidores, que comprarão os produtos que seus nutricionistas e médicos recomendarão para uma vida saudável. A agricultura fará parte da medicina preventiva, sendo ensinada para alunos de cardiologia, que depois receitarão alimentos frescos para prevenção da pressão arterial e do diabetes, assim como os clínicos para a obesidade e os pediatras para má nutrição.
As políticas para agricultura serão cada vez mais sensíveis à nutrição. Os governos poderão até arrecadar menos divisas com a exportação de commodities, mas se darão conta que o melhor negócio é gastar para manter a boa saúde da população.
Essas e outras questões serão discutidas durante a 3ª Conferência Agricultura e Alimentação em Sociedades Urbanizadas. Inscrições em agricultureinanurbanizingsociety-com.umbler.net.