Quando o estudante de Ciência da Computação Nícolas de Araujo, 21 anos, foi desafiado pela Embrapa Clima Temperado a desenvolver um aplicativo (APP) para atender uma necessidade da agricultura familiar, logo pensou:
– Tenho de evitar o choque de realidades, entre o complexo mundo da tecnologia e a simplicidade do campo – lembra o jovem, aluno da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e diretor de projetos da Hut8, empresa júnior.
Era preciso então encontrar um modelo de APP que fosse eficiente, mas também intuitivo para facilitar o uso entre produtores rurais – a maioria pequenos, por vezes com acesso limitado a novas tecnologias. Após mais de um ano de desenvolvimento e adequações com bases em testes práticos, nasceu o Pastejando – aplicativo para ajudar no planejamento forrageiro da propriedade, etapa crucial para a criação de animais.
– Identificamos um problema comum na pecuária de corte e na de leite, vazios forrageiros em determinadas épocas do ano, resultado da ausência de planejamento na tomada de decisão – relata Sérgio Bender, analista de transferência de tecnologia da Embrapa.
Sem saber ao certo a quantidade de pasto necessária para alimentar o rebanho, muitos produtores são surpreendidos pela falta de matéria seca na propriedade – afetando diretamente a produção de leite e de carne, exemplifica Bender. No Pastejando, são registradas informações como peso e idade dos animais, área cultivada e seleção da forrageira. Com base nesses dados, o aplicativo calcula a oferta de matéria seca e a demanda necessária. Em 15 dias de funcionamento, o aplicativo teve mais de mil downloads.
– Por meio de recursos gráficos e estatísticos é possível prever a escassez, equilíbrio ou sobra de pasto durante o período de 12 meses – explica o estudante.
O Pastejando foi um dos sistemas apresentados durante a 18ª edição da Expoagro Afubra, a maior feira da agricultura familiar no Brasil, encerrada na última quinta-feira, em Rio Pardo, no Vale do Rio Pardo. Em um workshop dedicado ao tema, outras iniciativas com a mesma lógica de planejamento foram mostradas ao público – formado especialmente por jovens.
Lançado oficialmente na feira, o PhenoGlad Mobile é uma ferramenta que ajuda o agricultor a buscar uma fonte adicional de renda com a produção de gladíolo – flor popularmente conhecida como palma-de-santa-rita.
– Trata-se de uma cultura de fácil manejo. É uma flor rústica, que requer investimento baixo – explica Lilian Osmari Uhlmann, 26 anos, doutoranda em Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O grupo de pesquisadores e estudantes da universidade desenvolveu a solução em parceria com Emater, Unipampa, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Instituto Federal Catarinense. O objetivo do serviço é justamente nortear o produtor sobre a época mais indicada para plantio, dependendo de qual data quer colher e vender e da influência de fenômenos climáticos no período.
– O aplicativo também fornece orientações de manejo para cada estágio da planta, além de um tutorial para quem quer entrar na atividade – completa Camila Becker, 25 anos, doutoranda em Engenharia Agrícola na UFSM.
O PhenoGlad Mobile é uma ferramenta de apoio para os produtores familiares que desejam diversificar a produção, tendo as flores como alternativa de renda para comercialização em datas específicas, como Finados e Dia das Mães, complementa Nereu Augusto Streck, professor de Agronomia da UFSM.
Canal direto entre produtor e consumidor
Do desejo de aproximar a agricultura familiar do mercado consumidor, eliminando intermediários, nasceu no Vale do Rio Pardo o Daqui Alimentos. O aplicativo, lançado durante a Expoagro Afubra, congrega produtores rurais e consumidores de 23 municípios da região. A ferramenta reúne ainda cooperativas e órgãos públicos que compram alimentos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Alimentação Escolar.
– O importante é que todos os atores irão se enxergar dentro do mesmo sistema – explica Eduardo Kroth, professor da Universidade de Santa Cruz (Unisc).
A instituição de ensino é a gestora do Arranjo Produtivo Local Alimentos do Vale do Rio Pardo, que coordena o projeto com recursos do governo federal. Iniciada em 2013, a iniciativa se propôs a unir produtores, cooperativas e consumidores em um aplicativo amigável e de fácil acesso.
– Os agricultores sabem produzir, mas na hora de colocar os alimentos no mercado ainda precisam de ajuda – avalia Jesus Edemir Rodrigues, gerente-executivo do APL Alimentos do Vale do Rio Pardo.
Por enquanto, a entrega e a forma de pagamento dos produtos será acertada entre vendedor e comprador. Além do canal direto, aproximando o consumidor da origem dos alimentos, a plataforma será útil para identificar a oferta de alimentos e as demandas do mercado, acrescenta Rodrigues. O aplicativo será disponibilizado ao governo estadual para ser replicado em outras regiões do Estado.
Com o limitador de sinal de internet, precário no meio rural, o APP funcionará no modo offline – com armazenamento de informações para processamento posterior.
– Foram mais de 3,5 mil horas de programação, onde tivemos de levar em conta a realidade das propriedades – completa o professor da Unisc.
Conheça os aplicativos gratuitos
Pastejando
O que oferece: planejamento forrageiro da propriedade.
Como funciona: calcula a necessidade de consumo de matéria seca do rebanho de corte e de leite ao longo do ano, levando em conta idade e peso dos animais, área cultivada com forrageiras e produtividade estimada.
Onde baixar: pelo Google Play (sistema Android).
PhenoGlad Mobile
O que oferece: orientação de como produzir a flor gladíolo, conhecida como palma-de-santa-rita.
Como funciona: ao cruzar informações geográficas do cultivo, épocas de plantio e colheita, além da influência de fenômenos climáticos, o aplicativo norteia a tomada de decisão dos produtores.
Onde baixar: pelo Google Play (Android).
Daqui Alimentos
O que oferece: canal direto de compra e venda entre produtores familiares e consumidores no Vale do Rio Pardo.
Como funciona: os agricultores cadastram a oferta de alimentos no aplicativo, onde consumidores conseguem fazer encomendas diretas. Cooperativas e órgãos públicos também participam da rede.
Onde baixar: pelo Google Play (Android) ou Apple Store (iOS)
