Dezenas de familiares, amigos e colegas de trabalho se despediram do presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Rivaci Sperotto, que morreu neste sábado (23) em Porto Alegre, aos 79 anos. O líder ruralista, que estava há duas décadas à frente da entidade, lutava contra um câncer de esôfago desde 2016 e morreu após sete dias hospitalizado. Ele deixa a mulher, Mariana, quatro filhos e três netos. O velório segue até as 11h de domingo (24), na sede da Farsul (Praça Saint Pastous, 125, Cidade Baixa), em Porto Alegre. Depois, o funeral será realizado no Crematório Metropolitano, na Avenida Oscar Pereira.
No velório, os presentes destacavam que, depois de muito lutar contra o câncer, Sperotto finalmente "descansou". Muitos repetiam que os últimos dias haviam sido de sofrimento, mas que mesmo assim a notícia de sua morte chegou como uma surpresa. Sperotto estava no sétimo mandato seguido como presidente da Farsul, cargo que assumiu em 1997. Antes, de 1991 a 1997, havia sido diretor financeiro da entidade.
Muito emocionados, os familiares não quiseram falar com a imprensa.
Trabalhando com há 24 anos no Sistema Farsul, ultimamente como assessor direto de Sperotto na presidência da entidade, Derly Girard destaca seu perfil agregador, capaz de unir a todos, mesmo aqueles que considerava seus "adversários", em torno de uma mesma causa.
— Ele tratava os colaboradores como se fosse a família dele, com o mesmo comportamento, o mesmo carinho. A gente vai sentir muito a falta dele. Vamos tentar passar para frente o que ele nos ensinou — afirma Girard.
Com a morte de Sperotto, Gedeão Pereira assumirá a presidência da Farsul. Atual primeiro vice-presidente, cargo para o qual foi eleito pelo terceiro mandato consecutivo, Gedeão afirmou que passa a assumir "um legado muito grande e muito difícil de ser conduzido".
— Carlos Sperotto foi uma figura muito grande, que teremos dificuldade para substituir. Ele transformou a Farsul na sua casa, no seu negócio, na sua atividade. A Farsul, com ele, é o produtor rural, é o agronegócio do Rio Grande do Sul. Ele dedicou a sua vida, algo raro dentre de um sistema, à defesa do produtor rural gaúcho e brasileiro — afirmou Gedeão.
Sperotto nasceu em Palmeira das Missões, no noroeste gaúcho. Viveu na Fazenda Cascata, da família — hoje em Santo Augusto, mas que à época pertencia a Palmeira — até os oito anos. Depois, foi mandado para o internato dos irmãos maristas em Santa Maria. Permaneceu por lá cinco anos, até ser enviado com outros três irmãos para Porto Alegre. Na Capital, terminou então Ensino Médio no Colégio das Dores e se formou em Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1962, quando também se casou com Mariana. O casal teve os filhos Carlos Eduardo, 52 anos, Marlowa, 53 anos, Alexandre, 48, e Rafael, 44, que lhe deram os netos Manu, Helena e Vicente.
Em nota, a Farsul lamentou a morte de Sperotto, que "contribuiu para fortalecer o agronegócio gaúcho e brasileiro ao longo da vida e, em especial, durante seu período como dirigente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul", conforme a entidade, que o definiu como "incansável na defesa dos produtores rurais".
O governador do Estado, José Ivo Sartori, lamentou a morte pelo Twitter:
No comando da Farsul, federação da agricultura mais antiga do país, protagonizou episódios marcados por tensão na luta por interesses dos ruralistas gaúchos. Nos primeiros anos, os embates mais fortes eram com o MST, devido ao período de recrudescimento das invasões de propriedades, e pela regulamentação do plantio de soja transgênica, tecnologia que começou a ganhar o Brasil pelo Rio Grande do Sul. As constantes negociações com Brasília para repactuar dívidas de produtores também foram passagens marcantes de sua trajetória de dirigente de classe quando ainda atuava na área financeira da Farsul.
Sperotto ocupava ainda, pela terceira vez, a presidência do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS) e era vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Era também representante da CNA na Federações das Associações Rurais do Mercosul, conhecida como Grupo Farm, e membro de diversos grupos técnicos e setoriais ligados à agropecuária.
Em sua atuação no setor rural, Sperotto foi ainda criador do Programa Nacional de Tipificação de Carcaças Ovinas, fundador e presidente da Federação Brasileira de Criadores de Ovinos Carne (Febrocarne), presidente da Associação Brasileira de Criadores de Texel (Brastexel), conselheiro da Cotrijuí e diretor dos sindicatos rurais de Santo Augusto e Ijuí.