Para garantir lãs com qualidade superior, que resultam em tecidos finos, é preciso fazer escolhas. Animais com alto valor têxtil têm carcaça menor – resultando em menos quantidade de carne.
– É possível produzir carne e lã, mas é preciso ter foco na atividade, que exige um cuidado extra. Hoje os rebanhos estão muito cruzados, reduzindo a qualidade da fibra – lamenta a veterinária Clara Vaz, criadora e pesquisadora aposentada da Embrapa, que atuava na área de produção de ovinos.
O desestímulo para a lã no Rio Grande do Sul está relacionado também com a desorganização do setor que, com a substituição da lã por fibras sintéticas nas últimas décadas, perdeu grande fatia do mercado. Outro problema é a pouca fidelização dos produtores com cooperativas e indústrias do setor.
– Às vezes por poucos centavos o produtor prefere vender a lã para o Uruguai – lamenta Clara.
Estima-se que cerca de 70% da produção bruta gaúcha seja destinada para o país vizinho. As barracas, empresas que compram a lã de produtores e exportam para o Uruguai, são as principais concorrentes das cooperativas e das indústrias, que acabam perdendo volume considerável do que poderia ser beneficiado aqui no Estado.
– São empresas (as barracas) que trabalham alguns meses no ano, enquanto a cooperativa tem um custo operacional o ano todo – compara José Galdino, presidente da Cooperativa de Lã Tejupá.
Naturalmente coloridas e moda sustentável
Além da demanda mundial por tecidos finos, outro nicho de mercado são as lãs naturalmente coloridas. Animais dessas linhagens produzem 16 tons diferentes de cor. Como o produto não vai para a indústria, porque não pode ser misturado com fibras brancas, acaba caindo nas mãos de artesãos e malharias especializadas. O processo, sem necessidade de tingimento, tem menor impacto ambiental.
_ Existe um movimento muito forte de sustentabilidade na moda, de retorno às origens _ diz Tatiana Laschuk, doutora em Design e professora da Uniritter.
O retorno da lã ao mercado da moda, hoje ainda dominado por fios sintéticos, que são mais baratos, se dá também diante de uma interação maior entre designers e artesãos, destaca Tatiana:
_ Com o recuperação do artesanato, as lãs voltam a ganhar força. Suas propriedades, como a capacidade de equilibrar a temperatura corporal, ainda são insubstituíveis.
Fazia quase um ano e meio que o cantor e compositor Telmo de Lima Freitas, 84 anos, vencedor de festivais nativistas, não pegava o violão. A tristeza após a morte do grande amigo Reynaldo Goulart Correia, de São Borja, o impedia de cantar e tocar. A pedido da reportagem, o artista retomou sua paixão. Foram quase duas horas de gravação e muita conversa no seu sítio, em Cachoeirinha. Não faltaram histórias ao recordar a composição da música O Esquilador, vencedora da 9ª Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, em 1979.