Quando é tempo de tosquia, nos versos do cantor e compositor Telmo de Lima Freitas, já clareia o dia com outro sabor. As tesouras, que cortam em um só compasso enrijecendo o braço do esquilador, ainda são usadas nas propriedades gaúchas. Mas a técnica australiana tally-hi parece ter chegado para ficar.
– Esse método proporciona um melhor acondicionamento da lã e maior bem-estar do animal – diz Pedro Ubirajara De Goes, esquilador em São Gabriel.
Além disso, o processo é mais rápido. Goes leva em média seis minutos para retirar a lã de um ovino da raça corriedale. No método tradicional, são necessários pelo menos 30 minutos. Para manter o animal imóvel, sem amarrá-lo, o esquilador coloca os ovinos em nove posições:
– O segredo é o cuidado e a atenção para deixar o animal calmo e à vontade, sem correr o risco de fazer cortes na pele.
No Uruguai, a tosquia a martelo foi praticamente abolida após a chegada da tally-hi. No Estado, ainda falta estrutura nas propriedades, como adequações nos galpões onde é realizado o processo.
Classificação das fibras no olho e no tato
Quando o carrinho com lã se aproxima, Cristiano Freitas dos Santos observa a coloração e o brilho do produto que chega do campo à Cooperativa de Lã Tejupá, em São Gabriel. Basta um toque nas fibras e um olhar no comprimento e na ondulação das mechas para distinguir a raça e a classificação _ que se divide em 10. O que hoje parece automático levou anos para ser aprendido. Ao lado do classificador Odelmi Ceschini, que trabalhou 47 anos na função, Santos foi persistente no desejo de assumir o posto quando o colega se aposentasse.
– Fiquei cinco anos trabalhando ao lado dele. No começo, levava mechas de lã para casa e ficava olhando até memorizar a diferença. Lia os livros que ele me emprestava também _ lembra Santos, que há três anos assumiu sozinho a função, após a aposentadoria de Ceschini.
A classificação é necessária para separar lãs de diferentes origens que chegam à cooperativa. A análise, feita a olho, é conferida depois na indústria – com equipamentos específicos para medir a espessura da lã.
– O percentual de erro é de 5%, no máximo 10%. Não mais do que isso – garante Santos.
O alto índice de acerto é atribuído à experiência e ao amor pela profissão, pouco atraente a novas gerações.
– Até hoje, não apareceu ninguém que se interessasse, porque não é fácil. É preciso ter amor. Se não tiver paixão, não se aprende e não se faz um bom serviço – resume Santos.
Da cooperativa, as fibras seguem para a indústria, onde são feitos os tops de lãs penteada – matéria-prima utilizada para a produção de fios para tecelagem, malharia e tricô.
– Cerca de 90% do produto que processamos é exportado para países da Europa. O restante é consumido por malharias e artesãos do mercado interno – explica José Antônio Dias, gerente administrativo da Paramount Têxteis, que neste ano pretende aumentar em até 50% o volume de lã comprada, na comparação com o ano passado.