Barris carbonizados consumidos pelas chamas, um forte cheiro de álcool queimado, a sala de degustação reduzida a escombros: Paradise Ridge, na Califórnia, Estados Unidos, não é mais um paraíso para os amantes do vinho. Localizada nas colinas de Santa Rosa, é uma das vinícolas mais devastadas pelos ferozes incêndios que atingem o centro do Estado, já deixaram mais de 40 mortos, forçaram milhares a deixar suas casas e atingiram mais de 80 mil hectares de terra.
Outras vinícolas também foram afetadas, não apenas em suas áreas físicas, mas também na colheita, que ficou comprometida.
– Trabalho nesta região há 25 anos, mas nunca vi nada parecido. As pessoas estão impressionadas com a rapidez com que o fogo se espalhou – diz Christian Butzke, professor de enologia da Universidade de Purdue, localizada no Estado de Indiana.
Ray Johnson, chefe do departamento de vinhos da Universidade de Sonoma, explica que os incêndios terão um grande efeito sobre a indústria em Santa Rosa, cartão postal que atrai milhares de turistas a cada ano.
A adega Stag’s Leap Wine Cellars, que alcançou a fama mundial em 1976 ao vencer grandes vinhos franceses em uma competição às cegas, foi evacuada, e os danos à sua estrutura ainda não foram contabilizados.
Na vinícola Signorello Estate, os funcionários lutaram uma noite inteira contra as chamas até que tiveram de abandonar o local. Os edifícios acabaram destruídos, assim como os prédios de outros vinicultores.
– Parece que houve um bombardeio – declarou Joe Nielsen, enólogo da Donelan Family Wines.
Ele contou ainda que na vinícola sobraram apenas chaminés, carros queimados e árvores destruídas.
– Muitas pessoas perderam tudo. Vinhedos com uma longa história foram arrasados pelas chamas (...) Em frente a nós, os bairros onde viviam nossos amigos foram reduzidos a cinzas – lamentou Cushing Donelan, cuja família administra a empresa Donelan Family Wines.
Perdas na produção impactarão preços
Levará anos para replantar as videiras queimadas e recuperar o ritmo de produção. Nesta época do ano, a maior parte das variedades foi colhida, embora as uvas mais emblemáticas para a região – cabernet e merlot, que dão os melhores e mais caros vinhos – sejam coletadas mais tarde.
Neste momento, por exemplo, apenas metade foi colhida, explica Butzke, da Universidade de Purdue. E muitas frutas serão afetadas pela fumaça e estarão inutilizáveis. Isso fará com que a produção caia e os preços subam nos próximos dois ou três anos, acrescenta o professor.
Embora esclareça que o custo sobre os 60 mil hectares de videiras plantadas no norte da Califórnia será relativamente menor:
– A Califórnia é tão inovadora e rápida para se reconstruir que a indústria do turismo deverá sobreviver.
O setor do vinho gera 46 mil empregos e mais de US$ 13 bilhões em volume de negócios apenas no condado de Napa e US$ 50 bilhões em todo os Estados Unidos. Esta região do vinho também atrai cerca de 3,5 milhões de turistas por ano.