A fraude do leite já é velha conhecida dos gaúchos, das autoridades e dos próprios criminosos. Durante mais de dois anos em nove operações do Ministério Público, a mais recente nesta quinta-feira nos Campos de Cima da Serra, o esquema foi tornado público - com informações precisas de como o crime acontece. Mas isso parece pouco para que algo seja feito em defesa da saúde pública - que continua sendo ameaçada com produtos de má qualidade.
- Deparamos com uma cultura criminosa. Isso sempre foi feito e nada acontecia. E o crime não é organizado, ele ocorre em diferentes setores, da propriedade à indústria, por isso é tão difícil de conter - disse o promotor de Justiça Mauro Rockenbach, à frente das investigações desde 2013.
Leite azedo era vendido como produto saudável nos Campos de Cima da Serra
Já preparando a décima operação, que deve ocorrer ainda neste mês, o promotor revela sentir o Ministério Público sozinho na repressão, já que até agora nenhuma legislação foi alterada ou fiscalização reforçada.
- Os transportadores continuam agindo sem nenhuma regulação, e a inspeção segue sendo feita por amostragem - lamenta Rockenbach.
Em março, o Instituto Gaúcho do Leite (IGL) apresentou duas minutas de projeto ao Legislativo e ao Executivo, com base em amplas discussões feitas com representantes do setor. Um deles, que exclui a figura do atravessador e regula a atividade do transporte de leite, chegou a ser apresentado pela Assembleia Legislativa, mas está parado na Comissão de Constituição de Justiça. O outro projeto, que regula a comercialização e disciplina a qualidade da produção de lácteos, segue em análise na Secretaria da Agricultura.
- Falta celeridade para aprovação desses projetos. É um assunto que requer urgência e que não está sendo tratado com a brevidade que a cadeia do leite precisa - critica Ardêmio Heineck, diretor-executivo do IGL.