Constante durante a Expointer, a interação entre o campo e a cidade é apenas uma das trocas possíveis no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Basta algumas horas circulando para ver que as fronteiras da feira estão muito além dos pampas.
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Espalhados entre expositores, visitantes, compradores, julgadores e competidores, espera-se mais de 600 estrangeiros neste ano. O número, ínfimo em relação aos cerca de 40 mil visitantes diários da Expointer, está longe de ser insignificante. Além de ter aumentado em relação a 2014, representa uma janela de oportunidades em um cenário econômico pouco favorável.
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- Antes o mercado estava aquecido, mas, com o dólar baixo, a exportação estava desfavorecida. Com a moeda alta, é o momento de reconquistar esses clientes - explica o presidente Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier.
Com fôlego renovado para seduzir investidores, o Simers, que costumava promover rodadas de negócios com estrangeiros, procurou, nesta edição, levar as comitivas para conhecer os estandes das empresas gaúchas.
Curiosos principalmente por genética e maquinário
A participação de quem vem do Exterior também é valorizada pela organização do evento, que vê diferentes tipos de intercâmbio simultâneos com esses visitantes:
- Além da troca cultural, temos um intercâmbio de tecnologias. Eles buscam novidades, principalmente na área de genética e maquinário - avalia Volmir Rodrigues, administrador do parque Assis Brasil.
Pela primeira vez no Brasil, o gerente de exportações Jonathan Eckley, que trabalha para uma organização britânica focada em agricultura e horticultura veio como "explorador" e gostou do que viu. Ele acredita que o destino da relação entre o Rio Grande do Sul e o Exterior caminha para além da compra e venda de produtos.
- Brasil e Inglaterra têm uma coisa em comum: combinar o tradicional com o moderno, o que é muito bom para uma parceria - antevê.
Abaixo, conheça histórias de estrangeiros que visitaram a Expointer.
O encantador de cavalos
Foto: Caco Konzen/Especial
Menos de 24 horas bastaram para se estabelecer uma evidente intimidade entre Lou Lima e Stylish Black Dress. A elegante égua de pelagem negra e crinas trançadas era só tranquilidade ao lado do americano, com quem treinou pela primeira vez na terça-feira e disputará hoje o ranch sorting, prova de condução de bovinos na qual Lima é especialista.
- É como andar no meu cavalo. Acho que ela ficou até aliviada, porque é uma égua americana, e o modo de treinar é um pouco diferente do brasileiro - comentou o simpático treinador.
Natural de Campos, no Rio de Janeiro, mas naturalizado norte-americano por causa da mãe, nascida nos Estados Unidos, Lima, 40 anos, visitava a Expointer pela primeira vez. Já como treinador de cavalos, sua trajetória é longa: são duas décadas de atuação com quartos de milha, mesma raça de Stylish Black Dress.
Embaixador dos EUA para a modalidade na qual competirá hoje, uma prima norte-americana da conhecida campereada, o criador de cavalos e bezerros e proprietário de três fazendas em Ohio, onde vive com a esposa e quatro filhos, empolgou-se com o que viu em Esteio. Em um português que "machuca a garganta", comemorou o fato de ver, na feira exemplos tão positivos quanto os que encontra no país que optou por viver:
- Viajei o mundo inteiro e nunca vi uma coisa tão grande (como a Expointer). Não deixa nada a desejar para os Estados Unidos. Parece que nem saí de lá.
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De expositor a jurado
Foto: Caco Konzen/Especial
A tranquilidade com que analisa os bovinos e se movimenta pelo gramado da pista principal da Expointer denuncia a experiência do jurado Carlos Ojea, 50 anos, com o agronegócio. O que não está à mostra é a vasta experiência do portenho na feira gaúcha, onde já ocupou diferentes posições.
Natural de Buenos Aires, na Argentina, Ojea participou do evento pela primeira vez em 1995, como expositor de bovinos, sua especialidade. Voltaria quase todos os anos seguintes com seus rebanhos até que, em 2012, foi convidado para mudar de lado. Virou jurado da raça brangus, o que se repetiu em 2014. Neste ano, julgou as estrelas da feira: determinou os vencedores da raça angus.
- As duas coisas (expor e julgar) são lindas. Sempre que estou entre as vacas, estou feliz - disse o criador argentino.
Dono de fazendas de diferentes raças, conhecidas pelo trabalho de melhoramento genético com animais - que já atingem cerca de 300 mil bovinos argentinos, segundo Ojea _ o argentino com 35 anos de experiência na lida ainda não sabe qual será sua atuação na Expointer em 2016. Mas, como de costume, o evento já está na sua agenda.
- Virei, nem que seja como visitante - brincou.
Caçador de negócios
Foto: Caco Konzen/Especial
Nascido em Caracas, na Venezuela, há 39 anos, Luiz Mulet adaptou até sua nacionalidade em razão do agronegócio. Depois de estudar em universidades conceituadas, como Michigan e Harvard, ele virou americano em 2010, quando deixou sua terra natal em definitivo para prestar serviços ao departamento de agricultura daquele país.
A experiência de alto escalão na área o levou a Londres, na Grã-Bretanha, onde fixou residência há um ano e meio. Lá, o executivo de estilo despojado - vestia camisa de manga curta e calça clara ontem - atua como consultor do governo britânico para negócios internacionais, com foco no agronegócio.
Sentiu-se à vontade em sua primeira Expointer, terceira feira do ramo latina a visitar em poucos meses. Antes, passou por México e Colômbia.
- Aqui é a feira mais completa das que estive recentemente, porque cobre todos os subsetores do agronegócio - destacou.
Com a missão de identificar oportunidades para empresas britânicas, Mulet passou boa parte de seu tempo na Expointer em reuniões. As melhores, segundo ele, trataram de assuntos relacionados à agricultura de precisão. Mas nem só de negócios são feitas as viagens do executivo. Com um sorriso largo, não pensou duas vezes para identificar o produto da agroindústria que mais apreciou em Esteio:
- Comi picanha todos os dias. É muito bom, vou sentir falta.