Parece videogame, mas a brincadeira é séria. Mais do que dar a chance de um teste virtual, os simuladores de máquinas se consolidam como meio seguro, eficiente e econômico para treinamento de mão de obra.
A conta é simples. Se o operador bater, a lataria segue intacta. Caso precise de horas para aprender a manobrar, não gasta um pingo de combustível. Seja dia ou noite, faça sol ou chuva, sempre há lavoura pronta para colher. E as vantagens se estendem às empresas, que além do treinamento, já usam o sistema como estratégia de venda.
Especialista em marketing da New Holland, Carlos Schimidt vê a simulação como meio eficiente de mostrar quão fácil é operar equipamentos tão tecnológicos:
- Nada enche mais os olhos do agricultor do que ver a máquina no campo, mas o simulador serve como suporte para treinar.
O gerente de serviços da Case IH para América Latina, Auri Orlando, também destaca os benefícios para a gestão da propriedade:
- Melhora a eficiência, pois se gasta menos, e o operador age mais confiante, até porque ganha mais por isso. Temos fechado negócios embutindo o simulador, porque o produtor vê que o conjunto completo é importante.
Schimidt ainda ressalta o papel dos simuladores para a sucessão rural ao estimular que o jovem fique no campo, pela maior intimidade com a evolução digital.
- A tecnologia está muito ligada ao jovem, que passa a ocupar espaço e ser protagonista ao lado dos pais - observa o coordenador dos programas especiais do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), Alexandre Prado.
E o futuro é promissor. Schimidt confia em um avanço dos simuladores no nível de sistemas usados hoje na aviação e na Fórmula-1, na qual o piloto costuma ter mais horas de treino virtual do que real:
- A tecnologia está só engatinhando. No futuro, teremos condições de simular tudo, do plantio à colheita das lavouras.
Jogo eletrônico vira programa de testes
Foto New Holland/Divulgação
Com foco em agricultura de precisão, a New Holland lançou um simulador de colheitadeira em 2010 e foi uma das pioneiras em usar o sistema também como estratégia de venda, com o modelo 9060. O bom resultado fez a ideia ser aperfeiçoada e ampliada para tratores e pulverizadores.
- Não adianta ter uma máquina boa se ela não for usada com seu máximo potencial. E o simulador ajuda nisso. É difícil conseguir mão de obra qualificada. A simulação permite acelerar o processo - ressalta Carlos Schimidt, especialista de marketing.
Até fim do ano, a meta é certificar o sistema para treinamentos.
- O que era um jogo virou capacitação. A meta é ter todos os equipamentos com simulação e certificação até 2016 - destaca Schimidt.
Escola móvel leva simulação à cidade
Foto: Case IH/Divulgação
Desde 2012, quando lançou oficialmente o primeiro simulador de colheita de cana-de-açúcar no Brasil, a Case IH aperfeiçoa o sistema. A mais recente versão permite até operação noturna e sob chuva. Gerente de serviços da marca para a América Latina, Auri Orlando destaca seu uso estratégico no campo:
- O cliente pode comprar e criar seu próprio centro de treinamento. É algo que antes só se via em avião e carro de Fórmula-1. Hoje, usamos para formar profissionais qualificados.
Enquanto cria sistemas semelhantes para colheita virtual de soja e milho, a empresa mantém uma escola móvel de simulação em parceria com o Senai, em São Paulo:
- Caminhões com simuladores viajam pelas regiões para oferecer cursos. Ainda temos cinco centros fixos de treinamento no país.
De pulverização a manejo no campo
Foto: Alessandra Bergmann/Divulgação
Em parceria com a Stara, de Não-Me-Toque, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-RS) oferece cursos de pulverização utilizando simulador em uma cabine. Com o sistema, é possível avaliar o resultado individual e aperfeiçoar a operação.
O Senar-RS ainda tem sistema que permite um passeio virtual no campo para ensinar boas práticas na criação de bovinos de corte e uma maquete multimídia para simular a propriedade e orientar o agricultor para preencher o Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Hoje, há 48 turmas no Estado, com suporte para 305 propriedades. Desde a Expointer, foram 141 feiras e 3,6 mil pessoas atendidas.
- O uso da tecnologia ajuda o instrutor a ensinar melhor e o produtor a testar sem medo - ressalta Prado.