Em janeiro, quando as lavouras gaúchas de soja eram brindadas quase que diariamente por pancadas de chuva, o produtor Eduardo Bervian, 54 anos, começou a perceber que a safra poderia superar as expectativas mais otimistas. Em abril, ao colher 54 hectares em Tapera, ele alcançou média de 80 sacas por hectare:
Acesse o InfoSoja, com curiosidades e estatísticas da produção no RS
- Certeza a gente só tem quando colhe, mas neste ano o cenário foi positivo desde o começo.
Filho de produtores rurais, Bervian não se lembra de ter visto uma safra com rendimento superior ao atual desde que passou a investir em terras próprias e em arrendamento, na década de 1990.
- Nunca vi uma safra como essa. O máximo que tinha alcançado foi 69 sacas por hectare, há uns cinco anos - lembra.
Além da ajuda do clima, influenciado pelo fenômeno El Niño, Bervian atribui a supersafra ao manejo e à tecnologia investidos na lavoura. Associado da Cotrijal, de Não-Me-Toque, o produtor recebe assistência dos técnicos da cooperativa, onde entregou toda a safra para ser vendida no melhor momento da cotação.
- Essa relação de confiança com a cooperativa é muito importante, até porque em lavouras pequenas não há espaço para erros.
Bervian tem só um funcionário, Alexandre Borges, 32 anos, que opera as máquinas e ajuda em outras tarefas ao longo do ano. A safra colhida agora deixará Bervian mais tranquilo para pagar os financiamentos da colheitadeira usada e de um trator comprado em 2010. Os demais equipamentos, como uma plantadeira e um trator, já foram quitados.
- Anos como esse motivam a continuar na atividade e provam que é possível alcançar alto rendimento, mesmo em propriedades pequenas com menor capacidade de investimento - afirma Bervian.
O alto rendimento da soja comparado a outros grãos e atividades agropecuárias fez muitos produtores familiares migrarem para a cultura. Lavouras de fumo, na Região Central, passaram a dividir espaço com a oleaginosa, bem como as produções de milho e feijão e de pecuária leiteira e de corte.
- A soja ajudou o pequeno a se capitalizar, aumentou a renda da propriedade nos anos de preços altos - avalia Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS).
Mas a soja não pode ser vista como única alternativa para elevar a lucratividade, alerta o dirigente.
-
A margem do pequeno sojicultor é bem menor, pois ele não tem escala de produção. Por isso, não pode ficar dependente da monocultura - pondera Silva.
Nas pequenas propriedades, a recomendação é de diversificação das atividades que, somadas, garantam uma renda segura para o produtor familiar.