Ao mesmo tempo em que acelera a colheita da safra de verão, o agricultor gaúcho pensa em como irá organizar a produção de inverno, que tem como principal cultura o trigo. A combinação da frustração de safra em 2014 com dólar valorizado - o que encarece os custos -, deve resultar em área menor para o cereal neste ano no Rio Grande do Sul.
Pelo menos essa é a percepção que têm representantes de entidades como a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e a Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro). Uma rápida consulta da coluna a produtores na Expodireto, na semana passada, para saber das intenções de plantio, teve como resposta: "nem vem me falar em trigo".
Escaldado pelo resultado da safra passada, que encolheu em volume - 52,3% em relação ao ano anterior - e deixou a desejar em qualidade, o agricultor se pergunta por que seguir investindo na cultura. E mais do que nunca faz as contas.
- Gostaria de ser otimista e dizer que a área vai aumentar. Mas não vejo esse sentimento do produtor - diz Paulo Pires, presidente da Fecoagro.
A indefinição do governo quanto ao reajuste pedido para o preço mínimo - de 19,34% - também não tem ajudado. Deixa o produtor sem referência no momento em que precisa planejar a lavoura de inverno.
Conforme o Ministério da Agricultura, o novo preço mínimo ainda está sendo negociado. Depois do consenso, é submetido à Fazenda e precisa receber o aval do Conselho Monetário Nacional (CMN).
- No ano passado, o reajuste foi de apenas 5%. O agricultor está à espera disso. Já se vê uma alta absurda de insumos: adubos de base e nitrogenados subiram 22% em um mês - afirma Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Farsul.
A tendência hoje é de redução de área - o plantio começa em maio no Rio Grande do Sul -, mas há fatores com potencial para mudar esse cenário. A colheita lucrativa de verão e os preços bons - valorizados pelo dólar que encarece os insumos - podem fazer o produtor rever os planos.
No Paraná, que no ano passado teve safra cheia e ocupou a posição de maior produtor nacional do grão, o plantio já começou, com tendência de aumento de área pelo baixo preço do milho. Muitos estão apostando no trigo em vez de uma segunda safra de milho.