Gonçalves (no centro, agachado) voltou a investir em ovinos depois de ter se dedicado mais à soja
Foto: Mercotexel, divulgação
Com algum recurso para investir, quem não quer um mercado em crescimento, com um produto que está se valorizando ano após ano e no qual se pode esperar retorno da aplicação em curto prazo? Foram essas perspectivas que levaram Flávio Menke Júnior, 38 anos, a ingressar na pecuária de ovinos. Mais precisamente, na criação de animais da raça texel. Com quase 20 anos de atuação no setor de som automotivo e proprietário de um sítio distante cerca de 35 quilômetros do centro de Pelotas, o empresário pensava em como fazer a propriedade lhe dar retorno financeiro, mesmo tendo pouco espaço.
- Pesquisando, vi que era um bom negócio. Em 2012, comprei cem animais de campo. Em 2013, mais 20. E, em 2014, adquiri três grandes campeões na Mercotexel (feira realizada em Santana do Livramento). Investi R$ 200 mil em animais, na estrutura da cabanha e contratei um técnico agrícola. Meu foco agora é em genética - conta Menke, que aposta no sistema de rotação de pastagem para criar os animais em pouco espaço.
Na edição deste ano da Mercotexel, o produtor não abriu a guaiaca. O que não quer dizer que desistiu da atividade. Pelo contrário: se dedicou a manter contato e conversar com outros criadores e a buscar no local mais informações sobre a atividade.
- Fiz amigos entre os criadores - alegra-se o estreante, revelando que a previsão de retorno do investimento em três anos já não é uma preocupação e que a primeira venda de seus animais deve ocorrer neste ano.
Aumento do rebanho e expansão fora do RS
Menke é um bom exemplo de como a valorização dos ovinos atrai novos criadores ou leva os antigos, como Juliano Gonçalves, 41 anos, a reinvestir no negócio. Apesar de ter sido criado na tradicional cabanha São Dionísio, de Bagé, Gonçalves há sete anos vinha se dedicando principalmente à soja, em Hulha Negra.
- Eu e meu irmão, Ricardo, dividimos o rebanho que era do pai. Ele também ficou com a marca São Dionísio e metade da criação de ovinos. Eu voltei mesmo a investir no texel somente em 2012, quando criei a cabanha Dom Amado. Estou com 140 animais, dos quais 70 são matrizes - calcula Gonçalves, que na edição deste ano da Mercotexel ganhou o grande campeonato com um de seus animais, vendido por R$ 21 mil e na Feovela, encerrada no domingo, teve três trios de animais grande campeões na edição.
Entre os clientes recentes do produtor está outro estreante, o jogador de vôlei Paulão - que assim como Menke, é exemplo do ingresso de novos criadores.
Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Texel, Nedy de Vargas Marques afirma que, nos últimos três anos, o rebanho gaúcho cresceu mais de 10%. Parte desse incremento, opina Marques, seria resultado também dos negócios feitos por novos criadores, como Menke e Paulão, ou da retomada dos antigos, como Gonçalves:
- No Brasil, passamos de um rebanho texel de cerca de 18 mil a 20 mil animais, há três anos, para entre 22 mil e 25 mil, hoje. A raça tem carne menos gordurosa, o que atrai o consumidor e também rende boa lã. Além da expansão com criadores daqui, há procura maior também por pecuaristas do Paraná. Tudo isso ajuda a valorizar a raça.
Atividade em alta
- O maior consumo de carne de ovelha no Brasil e a recuperação do preço da lã, que se manteve baixo por muitos anos, estão entre as razões da valorização dos ovinos.
- Em uma das principais feiras do setor, a Feovelha, encerrada no domingo, em Pinheiro Machado, foram ofertados mais 6 mil animais - quase todos comercializados. A feira reuniu representantes de pelo menos 200 randes cabanhas.
- De acordo com Rossano Lazzarotto, presidente do Sindicato Rural de Pinheiro Machado, chamou a atenção o volume de compradores cadastrados para acompanhar virtualmente os remates: passou de 30 para cerca de 60, a maior parte pecuaristas de fora do Estado.
- A raça merino tem um público fiel na Feovelha e também se destaca nas vendas. As raças corriedale e ideal igualmente estão ganhando mercado, estimuladas pela valorização da carne. Cresce, ainda, a procura por ilê de france e dorper.
- Jarbas Knorr, presidente do Sindicatos dos Leiloeiros Rurais do Estado (Sindiler), estima alta generalizada nos preços durante a temporada, com intensidade variável conforme a raça. Além da procura gaúcha, compradores de Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso ajudaram a reforçar as vendas.