O pecuarista interessado em qualificar o plantel e que for às pistas nesta temporada de remates de primavera terá de se apressar e se preparar para desembolsar mais do que em 2013 para comprar touros. A valorização deve ser puxada pela alta do boi gordo, influenciada por fatores como aumento das exportações, redução de animais prontos para o abate e disposição do próprio consumidor brasileiro de abrir a carteira para ter à mesa carne de qualidade, trunfo das raças de origem britânicas e suas derivações sintéticas criadas no Estado.
Pelo lado da oferta, a tendência é de menor número de reprodutores à disposição devido ao inverno chuvoso que dificultou o desenvolvimento de pastagens e a preparação dos animais, diminuição de remates e mais compras antecipadas nas propriedades. Dados do Sindicato dos Leiloeiros Rurais (Sindiler-RS) mostram que, na temporada passada, o martelo bateu para 5,2 mil reprodutores.
- Neste ano, serão em torno de 4,5 mil - estima o leiloeiro Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates.
O presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), Fernando Lopa, enumera mais razões para projetar uma temporada de valorização. Segundo Lopa, em 2014 cessou o abate de fêmeas verificado nos dois últimos anos em virtude do avanço da soja nos campos de pecuária. Isso estaria ajudando, agora, a frear a oferta de gado para abate, influenciando os preços e também levando a uma procura maior por touros pela retenção das matrizes. Com o interesse em alta e a antecipação das aquisições, Lopa faz uma previsão:
- Vão faltar touros.
Para Silva, quem for às compras no final de outubro corre o risco de não encontrar os melhores reprodutores. Na Associação Brasileira de Angus (ABA), o número de remates chancelados pela entidade no Estado será 10% inferior ao do ano passado, mas se repete a expectativa de uma estação promissora para os negócios.
- Esperamos uma boa temporada de vendas porque os preços do boi e do terneiro estão altos. Produtores que investirem em touros devem ter retorno interessante - avalia José Roberto Pires Weber, vice-presidente da ABA.
A percepção de antecipação é compartilhada por Henrique Ribas, vice-presidente da Associação de Criadores Devon.
- Acreditamos que teremos 30% dos reprodutores vendidos antes do início da temporada e, na metade dela, o estoque já estará liquidado - entende.
Também deve influenciar o mercado, dizem criadores e leiloeiros, a busca pela genética produzida no Rio Grande do Sul por pecuaristas de outros Estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás.
GAP aumenta a oferta em 2014
Na contramão das expectativas, algumas cabanhas aumentarão a oferta, como a GAP. No leilão do próximo domingo, em Uruguaiana, serão 300 touros e 320 ventres das raças angus, brangus, hereford e braford, número 10% superior ao ano passado. A intenção é privilegiar tradicionais clientes e reservar o que a cabanha tem de melhor para a disputa de lances. Apesar da escalada do preço do boi gordo, manter a média de 2013 será considerado um bom desempenho, avalia João Paulo Schneider da Silva, diretor comercial da GAP:
- Não acreditamos que essa valorização seja toda repassada, talvez por incertezas da economia, pelo momento de recessão. Mas a pecuária vai muito bem. A atividade, que vive altos e baixos, nunca teve estabilidade tão duradoura.
Considerado um dos principais remates da temporada de primavera e balizador de preços, o leilão da GAP faturou R$ 4,03 milhões ano passado.