Apesar do potencial de ampliação de até 8,9% na área plantada com trigo no Estado, o cultivo do grão começa em clima de dúvida e marcado por um preço mínimo ainda em discussão. No final de março, quando o governo federal anunciou que a tonelada do cereal ficaria em R$ 557,50, produtores como Ivo Batista, presidente da Cooperativa Tritícola Regional São-Luizense (Coopatrigo), começaram a recuar no projeto de aumento da área semeada.
Na quinta-feira, o agricultor deu início ao cultivo em mil hectares em São Luiz Gonzaga, Bossoroca e Rolador. Inicialmente, era para ser uma área 20% maior.
- Decidi manter o mesmo espaço do ano passado. Com um custo 15% maior, o governo faz um reajuste de 5%? Vou é aumentar o plantio de milho mais adiante - explica Batista, que pode rever a decisão caso tenham sucesso as negociações do setor para que o governo reveja seus cálculos.
Amanhã, em reunião com o secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Seneri Paludo, a Federação da Agricultura (Farsul) defenderá que o custo de produção adotado pelo governo na análise do reajuste está equivocado - e por isso o índice teria ficado tão baixo.
- Foi utilizado custo estimado pela Conab de Brasília. É preciso olhar a planilha gaúcha - alega o presidente da comissão de trigo da Farsul, Hamilton Jardim, que defende reajuste de 16,38%.
Há incerteza, ainda, sobre possíveis reflexos nos preços, dado o cultivo do cereal no mundo, que avança entre os principais países produtores. O abastecimento gaúcho é influenciado, no Brasil, pelo Paraná, e por outros países do Mercosul, como Paraguai.
- Paraná e Paraguai estão semeando uma grande área. Apenas do Paraná podem sair 3,4 milhões de toneladas. Mas o clima é sempre imprevisível, e não há certeza sobre o que se vai colher, basta olhar as perdas do ano passado - observa Jardim.
A Argentina, outro grande produtor mundial, também pode trazer novidades: o país está aumentando o plantio e os líderes rurais pressionam o governo a liberar as exportações.
O cultivo no Brasil e no mundo
No Brasil, a estimativa da Conab é de que o cereal cubra 2,5 milhões de hectares. No Rio Grande do Sul, a companhia estima o cultivo em 1,08 milhão de hectares e, no Paraná, em 1,26 milhão. O restante viria de Santa Catarina, Sudeste e Centro-Oeste .
Na Argentina, a semeadura deve ocorrer em 4,2 milhões de hectares, ante 3,6 milhões no ciclo passado.
O Canadá, outro grande produtor, deve novamente ter uma grande colheita, mesmo se a área for reduzida.
A crise na Ucrânia, grande produtor mundial, ajuda a impulsionar o plantio e sustentar os preços em alta.
A seca está castigando o cinturão do trigo dos Estados Unidos, reduzindo as perspectivas de produção no país.