Famílias de agricultores que fornecem carnes suína e de frango, leite e grãos que alimentam os moradores das cidades gaúchas estão em Porto Alegre reivindicando acesso a internet, preços justos para sua produção e solução do conflito com índios por terras.
Uma passeata, nesta tarde, reúne aproximadamente 4 mil colonos na área central, que se dirigem ao Palácio Piratini. As famílias chegaram ao amanhecer à Capital em cem ônibus vindos de vários cantos do Estado para participar do 20º Grito da Terra Brasil, evento de duas décadas organizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), vinculada à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Além de Porto Alegre, há manifestações em outras 10 capitais brasileiras.
No território gaúcho, em números redondos, a agricultura familiar é praticada em 376 mil propriedades, responsáveis por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. A maior concentração desse tipo de agricultura é no norte do Estado, em terras colonizadas por europeus.
- Hoje, temos 102 mil propriedades rurais sem sucessores. O motivo principal é que o jovem não está apostando na vida de colono. E não é só por motivos econômicos: há também a carência de acesso a coisas fundamentais da vida moderna, como a internet - avalia o presidente da Fetag, Elton Weber.
A reivindicação da Fetag é de que a internet chegue às casas pela rede elétrica. O colono Jorge Luiz Kunvler, 20 anos, que vive em sete hectares em Pirapó, cidade agrícola do noroeste gaúcho, comenta que trabalha com os pais produzindo grãos e proteína animal. Ele sente falta de poder operar um computador:
- Para acessar a internet, preciso ir até a cidade. Gostaria de fazer isso em casa. Além de ter acesso a informações importantes para o meu trabalho.
Protesto ao som de música sertaneja
Durante a manhã, Kunvler e as outras famílias estavam instalados no pátio do prédio da Delegacia do Ministério da Agricultura, nos arredores do Centro Histórico de Porto Alegre. No meio dos manifestantes, em um caminhão de som, duplas sertanejas cantavam para manter as pessoas animadas. Entre uma música e outra, os sindicalistas faziam discursos inflamados sobre a pauta de reivindicações das famílias, que foi entregue a vários órgãos públicos do Estado e da União.
- Nosso problema é que, nas nossas mãos, os produtos valem pouco dinheiro, e o consumidor paga um preço absurdo. Quem fica com o lucro? Claro, é o intermediário - comenta Arlei Lange, 42 anos, produtor de Três Passos, cidade do noroeste do Estado.
Um dos assuntos fortes entre os manifestantes foi a questão indígena, que atinge, pelo menos, 20 mil famílias de agricultores familiares. Mas a inquietação provocada pelo conflito agrário com os indígenas se espalhou pela casa da maioria dos colonos, afirma Gedi Zanin Durante, agricultora e vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marau, cidade agrícola na região de Passo Fundo.
- Há seis anos, nós temos uma disputa de terras com índios, que estão acampando no Campo do Meio, uma localidade que fica na divisa do município - comenta Geni.
Ela diz que os índios reivindicam a posse de 22 mil hectares. Por ser uma região de pequena propriedade, a área reivindicada desalojaria centenas de famílias de agricultores. Disse também que, depois do episódio de Faxinalzinho - no final do mês passado, índios caingangues mataram a tiros e pauladas os irmãos e agricultores Alcemar, 41 anos, e Anderson Souza, 26 anos -, o temor tomou conta das famílias que disputam terras com indígenas. Esse deve ser uma das principais questões que os líderes da Fetag devem tratar com o governo do Estado. A previsão é de no final da tarde os agricultores retornem para suas cidades.