No Vale do Rio Pardo, costuma se dizer que é mais fácil largar o cigarro do que parar de plantar fumo. Se o Brasil é o segundo maior produtor mundial de tabaco, o Rio Grande do Sul é o principal responsável por essa posição, com 48% da produção nacional. E, no Estado, um terço da matéria-prima é produzido em municípios como Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Candelária e Rio Pardo.
Mesmo com as campanhas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do governo brasileiro contra o cigarro, não são muitos os agricultores da região que falam em largar a fumicultura. A palavra de ordem não é parar, mas diversificar a produção.
A principal razão para que continuem investindo no tabaco, embora também venham aumentando o cultivo de outros produtos agrícolas, é que poucas culturas são tão rentáveis em pequenas propriedades quanto a fumicultura.
Enquanto em um hectare cultivado com fumo é possível obter lucro de R$ 2 mil o feijão, por exemplo, rende R$ 1,45 mil, de acordo com dados da Afubra.
Lauri Schwinn, 50 anos, é um exemplo disso. Depois de anos como arrendatário, quando produzia fumo e repassava parte ao proprietário da lavoura, comprou o primeiro pedaço de terra, há 20 anos.
Nos 10 hectares localizados no interior de Santa Cruz do Sul, e com trabalho exclusivamente familiar, a cultura que lhe garante renda é a do tabaco. Além disso, cultiva horta, pomar e cria galinhas e gado para subsistência.
- Com isso, eu garanto o consumo da minha família e não preciso comprar quase nada. Mas é o fumo que me deu condições de construir uma casa, duas estufas (que também servem como galpão), comprar um carro e mobiliar a casa - conta Schwinn, que atualmente colhe as primeiras folhas dos 40 mil pés de fumo.
Internet na maioria da propriedades
Os investimentos que ajudaram a família Schwinn a incrementar a lavoura também serviram para dar mais qualidade de vida e estudo ao filho - que mesmo morando no interior do município não deixa de ter computador, notebook e internet em casa.
A tecnologia é importante para Fábio, 18 anos. Depois de frequentar a escola - uma obrigação para aderir ao sistema integrado de produção com as fumageiras -, o jovem cursa o segundo semestre de Engenharia Agrícola na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), com ajuda de uma bolsa de estudos.
- Ele poderá escolher o que quiser no futuro, opção que eu não tive. Mas até agora demonstra interesse em permanecer no campo. Se isso ocorrer, terá conhecimento para conseguir ainda mais lucro - observa o pai.
Segundo o professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Unisc Heron Begnis, economista e doutor em agronegócio, a cadeia produtiva do tabaco tem impacto além do campo.
Em 2011, a pesquisa apontou que 54% dos produtores de tabaco já tinham computadores m casa e 24% possuíam acesso a internet. Levantamento feito pela Souza Cruz, neste ano, estima que 80% dos fumicultores já contam com computadores. Assim como o número dos que dispõem de acesso à internet cresce a cada dia.
Liderança de 21 anos
Tabaco proporciona mais rentabilidade e recursos para investir nas lavouras
Até outubro, setor contabiliza queda nos embarques de 2%, mas valor ainda pode ser revertido
Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
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